Monitoramento aéreo avista 284 baleias francas entre Florianópolis e Torres
Sobrevoo realizado pela SCPar Porto de Imbituba constatou número recorde de avistagens desde que o programa de monitoramento começou a ser realizado
O mar está para baleias! O segundo sobrevoo de Monitoramento de Cetáceos realizado pela SCPar Porto de Imbituba este ano constatou a presença de 284 baleias na Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, o maior registro desde que o programa começou a ser realizado pelo Porto de Imbituba. O trabalho ocorreu durante o sábado, 8, e o domingo, 9, devido a grande quantidade de cetáceos encontrados entre Florianópolis e Balneário Rincão, percurso que abrange toda a APA da Baleia Franca, estendendo-se até Passos de Torres. No sobrevoo realizado no mesmo período de 2017 foram avistadas 49 baleias. Segundo o Instituto Australis/Projeto Baleia Franca (PBF), o recorde de avistagens nesse período havia sido observado em 2006, quando foram registradas 194 baleias na região.
Nesta segunda-feira, 10, a equipe técnica do sobrevoo está revisando os dados coletados, visto que o sobrevoo teve um tempo de esforço de avistagem de 11 horas em dois dias seguidos, podendo ter alguma pequena duplicidade na contagem dos indivíduos.
A maior concentração de baleias foi avistada em Garopaba, Imbituba e Laguna. A análise inicial dos dados demonstra a ilustre presença de cinco filhotes semi-albinos. Outros grupos de cetáceos também foram encontrados, como os golfinhos-nariz-de-garrafa ou boto da tainha (Tursiops truncatus), espécie que realiza a pesca cooperativa junto aos pescadores em Laguna. Pela primeira vez foram avistadas as toninhas, cetáceos em grave risco de extinção e raras na região. Outra surpresa do sobrevoo foi a avistagem das baleias “Zimba” (mãe) e “Imbituba” (filhote) na praia do Porto, indivíduos já catalogados pelo PBF.
Julho a novembro é o período em que a espécie utiliza o litoral catarinense para acasalar, procriar e amamentar a cria, tornando Santa Catarina a principal área de concentração reprodutiva de baleias-francas na costa brasileira. No primeiro monitoramento aéreo de 2018, realizado na primeira quinzena de julho, foi constatada a presença de 36 baleias.
Os resultados surpreenderam até mesmo a equipe técnica que acompanha o programa de monitoramento de cetáceos. “Já imaginávamos que haveria um grande número de avistagens de baleias na região, em virtude do que observamos nas últimas semanas e desde o início da temporada, através do monitoramento terrestre. Para nossa surpresa, a quantidade observada foi muito superior aos dados históricos de sobrevoo. O que nos deixou extremamente contentes com esses resultados pois trabalhamos exatamente com o foco na conservação do ambiente natural”, destaca Robson Busnardo, gerente de meio ambiente da SCPar Porto de Imbituba.
Para Karina Groch, pesquisadora do Instituto Australis, diferente dos últimos anos, possivelmente a disponibilidade de alimento aumentou e, portanto, as baleias voltaram a se reproduzir e vieram em grande quantidade. “Essa quantidade de baleias está sendo observada não só aqui no Brasil como lá na Argentina também. Um reflexo simultâneo nas duas regiões e que a gente atribui a questão do repouso reprodutivo, dos últimos anos terem pausado, de certa forma, a reprodução. As baleias têm um filhote a cada três anos e possivelmente muitas baleias que poderiam ter se reproduzido nos últimos anos não vieram em função desse repouso, dessa pouca disponibilidade de alimento”, destaca Karina.
O último sobrevoo da temporada está previsto para novembro. “Todos os animais avistados são catalogados por meio de fotografia das calosidades que elas têm em cima da cabeça, que são únicas para cada animal, como se fosse uma digital”, aponta Gilberto Ougo, oceanógrafo da Acquaplan Tecnologia e Consultoria Ambiental, atual contratada para executar o serviço.
Programa de monitoramento
Este é o décimo ano que o Porto de Imbituba realiza o Programa de Monitoramento de Cetáceos. Desde sua criação são utilizadas duas metodologias: o monitoramento aéreo e a observação terrestre dos mamíferos marinhos que visitam a região (como baleias e golfinhos). Atualmente, o programa é realizado no âmbito do Plano de Controle Ambiental (PCA) da SCPar Porto de Imbituba, autoridade portuária, executado pela Acquaplan e o Instituto Australis – PBF.
Conforme explica Camila Amorim, oceanógrafa da SCPar Porto de Imbituba, o objetivo do programa é monitorar a frequência dos cetáceos avistados na região do porto e compreender o comportamento deles frente às atividades portuárias. “Como os navios que chegam a Imbituba atravessam a APA da Baleia Franca, o monitoramento da frequência de pequenos e grandes cetáceos no entorno do porto, estudando o seu comportamento e acompanhando o tráfego de embarcações, evita possíveis interações negativas e promove maior segurança para a conservação da espécie em seu habitat natural”, destaca Camila.
Durante a temporada, o monitoramento terrestre ocorre diariamente, em dois pontos de observação, nas enseadas das praias do Porto e Ribanceira, em Imbituba. O tempo de observação padrão é de seis horas diárias, divididas em dois turnos, podendo variar de acordo com a quantidade de horas/luz diárias e as condições climáticas, bem como a movimentação dos navios.
Além dos monitoramentos, também se destaca no Porto de Imbituba o Procedimento Interno de Boas Práticas, implantado na temporada passada com o objetivo de conscientizar a tripulação das embarcações que circulam no porto (navios, rebocadores, lanchas, etc.) sobre a presença das baleias-francas na região. A equipe técnica de meio ambiente do porto realiza a abordagem junto aos comandantes e à tripulação das embarcações, levando informações sobre o comportamento das baleias-francas, mostrando o mapa com os limites da APA e explicando como ocorre o monitoramento dos cetáceos.
Reconhecimentos
Essa atuação focada na preservação das baleias, enquanto dá continuidade às operações portuárias de forma sustentável, já rendeu ao Porto de Imbituba três premiações: o Prêmio Empresa Cidadã ADVB/SC, categoria Preservação Ambiental, nos anos de 2016 e 2017, e o 23º Prêmio Expressão de Ecologia, categoria Conservação da Vida Silvestre.
As baleias e Santa Catarina
A histórica tradição da caça às baleias-francas em Santa Catarina quase levou a extinção da espécie na década de 1970. Apenas na década de 1980 as francas voltaram a ser observadas na costa brasileira, resultando no Decreto nº 92.185, de 20 de Dezembro de 1985, que pôs fim à caça de todas as espécies deste mamífero no Brasil, a partir de 1º de janeiro de 1986. Avistagens realizadas esporadicamente nos anos 1990 confirmaram o retorno da espécie à região sul do Brasil. Isso motivou o governo federal a instituir, em 2000, a APA da Baleia Franca.
Anualmente, cerca de 100 baleias são registradas, em média, em Santa Catarina. A maioria fêmeas em fase de procriação, que “passeiam” entre o litoral norte do Rio Grande do Sul e a região sul de Santa Catarina, limites da APA da Baleia Franca. Elas vêm para a costa sul-brasileira à procura de águas mais quentes e enseadas protegidas para o nascimento de seus filhotes. Estima-se que a cada três anos as baleias-francas têm um novo filhote, sendo que o tempo de gestação é de 12 meses. Elas partem da Antártica, onde se alimentam e acumulam reserva energética em forma de gordura para a jornada rumo ao continente sul-americano.
(Do https://dnsul.com/)
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