quarta-feira, 29 de agosto de 2018

A MORTE DOS VISITANTES


Dez animais marinhos morrem por dia nas praias de SC
Por Dagmara Spautz

Todos os dias, 10 animais marinhos aparecem mortos nas praias de Santa Catarina. Tartarugas, golfinhos e pinguins estão entre as espécies que lideram a estatística, que surpreende e assusta pesquisadores. A média leva em conta apenas os que foram encontrados entre Laguna e Itapoá, trecho de 354 quilômetros que é coberto pelo Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos, coordenado pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali).

Somados os números do litoral do Paraná e de São Paulo, que também integram esta fase do projeto, 40 mil animais já foram encontrados mortos ou debilitados nas praias em três anos. Santa Catarina é o estado com a maior quantidade de ocorrências – no ano passado, por exemplo, tivemos mais de 6 mil.

Os números surpreendem os pesquisadores porque estampam uma realidade que até então era conhecida, mas subestimada. Esta é a primeira vez que um projeto realiza buscas diárias em todo o trecho de praias incluído no monitoramento. Os trabalhos na região eram esporádicos e os métodos de coleta de dados não chegavam a um resultado confiável, que pudesse trazer à tona a dimensão do problema.

– Ninguém imaginava que se encontrariam tantos, porque o esforço (de busca) era muito menor. Dependia das instituições terem o recurso para pesquisa, o intervalo entre os levantamentos era grande, e as estimativas eram baseadas nisso – diz o pesquisador André Barreto, que coordena o projeto.

O monitoramento foi uma contrapartida exigida pelo Ibama no processo de licença ambiental para exploração de gás e petróleo, pela Petrobras, no Pré-Sal da Bacia de Santos. Ao todo, sete instituições de pesquisa entre universidades e projetos ambientais atuam nessa fase do programa. Em Santa Catarina, além da Univali participam a Associação R3 Animal, Universidade da Região de Joinville (Univille), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Instituto Australis (Projeto Baleia Franca) e Projeto Tamar.

Número de animais marinhos encontrados em 2017
Reabilitação

Recolhidos, os animais vivos são encaminhados à reabilitação nas instituições parceiras. Os que chegam mortos às praias, e representam a maioria dos resgates, passam por necropsia, que indica se a morte teve relação com alguma atividade humana. Na maioria dos casos, a hipótese é confirmada.

O fato é que, se o número de animais afetados assustou os pesquisadores, o mesmo não se pode dizer sobre as causas da mortandade. Já se sabe há muito tempo que entre impactos de curto e longo prazo, o ser humano é responsável direto ou indireto por uma série de fatores que causam a morte ou doenças nos animais marinhos – da pesca ao lixo nos oceanos. Só não se imaginava que o problema era tão sério.

– O impacto que vemos não é só de uma atividade, é múltiplo. Temos identificado alguns animais com óleo, atropelados por embarcação, enredados, com níveis de contaminação relativamente altos. O ambiente marinho vem sendo muito maltratado pelas atividades humanas – alerta Barreto.

Os números do projeto de monitoramento mostram que as áreas onde há maior atividade humana são também as que têm maior número de animais afetados que chegam às praias. A dinâmica das marés influencia no local onde os animais aparecem, mas onde a pesca é intensa e as cidades costeiras são populosas, por exemplo, a quantidade de animais recolhidos é três vezes. No Estado, as praias de Florianópolis, São Francisco do Sul, Laguna, Imbituba e Barra Velha são as recordistas no número de ocorrências – todas com uma média de mais de um animal por dia no ano passado.

Os dados, que são públicos, já foram utilizados em mais de 60 projetos de pesquisa sobre a vida marinha no país. A expectativa é que, a longo prazo, os números possam ser comparados e as estimativas levem a políticas públicas que protejam a fauna marinha.

– O que se espera é que a informação que estamos levantando sirva de base para um melhor manejo, inclusive da pesca. Não queremos impedir nenhuma atividade, mas buscar maneiras de gerar um menor impacto – diz Barreto. 

A primeira fase do projeto termina em janeiro do ano que vem.

(Do https://www.nsctotal.com.br)

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