A Ilha do Silêncio
A pequena ilha com exuberante cobertura vegetal no meio do Atlântico era povoada por um sem número de pássaros.
O sol nascia e a cantoria se espalhava por todo lado.
Aracuãs, pica paus, saracuras, sabiás, andorinhas, socós, gaivotas, trinta réis, curiós, gaturamos, tangarás e mais um coral de pequenos alados.
Cantavam e dançavam cheios de alegria.
Um belo dia chega um grupo de urubus descendo lá do alto das nuvens. Vieram voando em círculos e aos poucos foram pousando nas árvores mais altas.
Eram aves desconhecidas na ilha até então.
Todos os pássaros ficaram de bico aberto ao notarem que aqueles bichos pretos e grandes não emitiam um som qualquer. Voavam alto, pousavam em silêncio e assim era dia após dia.
O urutau, discriminado por seu canto gutural e desafinado, emitiu sua tese:
Eram pássaros superiores aqueles que vieram das nuvens e a permanência em silêncio era sublime. Para alcançar esse estado deveriam todos ficarem em silêncio.
E assim a ilha calou.
Gerações atravessando o tempo e a ilha calada. Cantar era crime. Os pássaros migratórios que por ali paravam eram logo advertidos e por desobediência seriam presos ou exilados.
Não se questionavam o porquê do silêncio já que seus ídolos, seus mitos - os urubus- permaneciam como exemplo de quietude. E dogma não se questiona.
As noites eram diferentes.
Sapos, rãs e pererecas se reuniam à beira da lagoa e coaxavam alto zombando dos voadores que nunca souberam que os urubus não cantam apenas por não possuírem siringe.
(Do Antonio Paulo D'Aquino Noronha, o Lengo)
Um comentário:
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