quinta-feira, 7 de junho de 2018

OS BOTOS E AS TAINHAS


Pesca com auxílio dos botos terá certificado de patrimônio cultural imaterial catarinense

A população de botos, 23 a 27 indivíduos auxiliam os pescadores encurralando o cardume de peixes e indicando por meio de uma sequência de sinais.

Mais um passo será dado para a preservação da cultura que envolve a pesca com auxílio do boto em Laguna. Neste sábado, ás 16h30min, no Memorial Tordesilhas será entregue pela Fundação Catarinense de Cultura, o certificado de registro da pesca artesanal com auxílio dos botos como patrimônio cultural imaterial de Santa Catarina. O cetáceo já é patrimônio do município, entretanto, a cultura que o envolve não.

Estarão na cerimônia pescadores artesanais e integrantes da Pastoral da Pesca; o historiador Rodrigo Rosa, que fez a defesa da pesca na Fundação Catarinense de Cultura; representantes da FCC; da Secretaria do Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina; Iphan; o governador Eduardo Pinho Moreira; prefeito Mauro Candemil, presidente da Fundação Lagunense de Cultura, Márcio José Rodriguês; secretários municipais e convidados.

O pedido foi solicitado em 2017, a diretoria de preservação do patrimônio histórico da FCC analisou os documentos e o Conselho da FCC certificou como patrimônio. A chancela será publicada no Diário Oficial do Estado e estará no Livro de Registro dos Saberes, que institui as formas de Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial ou Intangível, que constituem o Patrimônio Cultural de Santa Catarina. Neste contexto, a pesca com auxílio dos botos será inscrita como conhecimento enraizado no cotidiano da comunidade.

O município de Laguna aguarda agora o certificado emitido pelo Iphan.

Em fevereiro deste ano, a Festa do Divino de Florianópolis recebeu o mesmo título como patrimônio do Estado.

Em julho de 2016, foram lançados o documentário e o livro Educar, documentar e valorizar para preservar – Pesca Artesanal com auxílio dos Botos em Laguna. O projeto foi realizado pela Fundação Lagunense de Cultura, com recursos do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI) do Ministério da Cultura. Após o lançamento do livro, os pescadores solicitaram ao Iphan orientações sobre o Registro e sobre as políticas para o Patrimônio Imaterial.

A preservação do patrimônio cultural e do meio ambiente devem ser trabalhadas de forma inseparável, visando a manutenção e perpetuação da pesca com auxílio de botos, como é tradição em Laguna.

Integra a cultura do boto, a gastronomia, linguagem coloquial, paisagem, barco, tarrafas, redes de pesca, pois são a manifestação popular lagunense. A pesca com auxílio dos botos, pode ser apreciada no canal dos Molhes da Barra e outros pontos da lagoa Santo Antônio.

Botos na universidade
A Udesc, tem dentro do curso de Engenharia de Pesca, projeto que estuda a especíe, coordenado pelo professor Pedro Volkmer de Castilho. O município de Laguna, possui um complexo lagunar que é conhecido mundialmente por ser habitat de uma pequena população, cerca de 50-60 indivíduos, da espécie Tursiops truncatus, conhecido popularmente como boto-da-tainha.

Esta população, caracterizada por ser extremamente residente, possui um comportamento peculiar, a pesca cooperativa com os pescadores artesanais da região, onde parcela da população de botos, 23 a 27 indivíduos auxiliam os pescadores encurralando o cardume de peixes e indicando por meio de uma sequência de sinais, o momento exato de jogar a rede, aumentando as chances de sucesso da atividade. Esta atividade de pesca, tornou-se patrimônio da cidade de Laguna através da lei municipal N° 521, de 1997.

Apesar da extrema importância não só ecológica, mas também socioeconômica, a população de Tursiops t. da região, sofre uma série de ameaças, sendo elas trafego de embarcações, captura em redes de pesca, perda de habitat e doenças causadas por exposição a contaminantes.

Botos e os sons
A paisagem Sonora da Pesca Cooperativa na cidade de Laguna está sendo pesquisada, parceria da organização não-governamental Instituto Boto Flipper, com o Laboratório de Acústica e Meio Ambiente da USP. O trabalho vai contribuir com conhecer melhor a rotina do boto e seu comportamento.

Botos e as leis
- Está tramitando na Câmara de Vereadores de Laguna, o projeto de lei Nº 033/18 do poder executivo, que dispõe sobre a proteção da população de Tursiops Truncatus (Boto Pescador), através da proibição de tipos de artes de pesca consideradas nocivas a espécie.

- No dia 25 de maio, é lembrado como o Dia Estadual da Preservação do Boto Pescador. A data comemorativa estadual foi instituída pela Lei 17.084, de 12 de janeiro de 2017, a partir de um projeto de autoria do deputado José Milton Scheffer. O objetivo é promover ações de conscientização sobre a importância da preservação da espécie para o desenvolvimento cultural e econômico da região. O projeto de lei foi sugerido por alunos da Escola de Educação Básica Ana Gondin, de Laguna, participantes de 21ª edição do Parlamento Jovem catarinense.

- A cidade do litoral catarinense detém o título de “Capital Nacional dos Botos Pescadores” (Lei 13.818/2016) por desenvolver a pesca cooperativa da tainha com o golfinho da espécie Tursiops truncatus. Os botos, em um movimento sincronizado, cercam o cardume, o pescador aproveita e lança a tarrafa ao mar. Apesar de ser avistado em todo o litoral brasileiro, só na região do Canal da Barra, nos Molhes, o boto apresenta esse comportamento.

- De acordo com a lei 521/97, o boto é considerado patrimônio natural da cidade, o que promove o poder de proteger o animal, proibindo atividades que possam causar danos à espécie.

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