terça-feira, 24 de abril de 2018

VAMU RAPAZI

" Esse ano a missa do primeiro de maio vai ter uma ponta de tristeza. O seu Getúlio não estará no comando, organizando a banda, arrumando os santinhos, dando ordem na procissão. Ele foi quem criou esse evento para juntar os pescadores e para celebrar o início da pesca artesanal, quando as canoas à remo saem dos ranchos e galopam o mar em busca da tainha. Bem no dia do trabalhador, já que os Pedros do mar são isso mesmo, trabalhadores que, com a força das mãos e o atinado dos olhos, buscam e cercam os peixes que enfeitarão a mesa e matarão a fome.

Há 13 anos que o primeiro de maio é assim no Campeche, uma festa religiosa/místico/popular. Ali cabem todos os que amam essa comunidade valente, sempre pronta para os embates. Café da manhã quentinho com bolos e cucas e depois a caminhada com São José, Maria e Jesus, a família santa dos cristãos. E no meio da missa se misturam a fé católica com as batalhas pagãs, porque seu Getúlio entendia que aquele era um dia para todos. Mesmo os adversários políticos fazem uma trégua e se toleram naquelas horas de celebração.

Seu Getúlio encantou no ano passado, mas a tradição não vai se perder. Em homenagem a todo o seu legado todos nós acorreremos à praia para render graças pelo início da pesca. cada um com seu credo, cada um do seu jeito e todos juntos pelo Campeche.

Na praia, que é nosso coletivo quintal, cantaremos, nos abraçaremos, sorriremos uns para os outros, e festejaremos a vida. A alegre algaravia criada pelo querido maestro/pescador vai seguir acontecendo. E sob sol ou chuva, pediremos proteção à Virgem, à Iemanjá, aos deuses e deusas das águas. E no frescor da manhã veremos o seu Getúlio, com seu passo lento e olhar desconfiado, esboçando um tímido sorriso, feliz por estarmos todos ali, com ele, por ele. Vai ser bonito. Não faltaremos!

No dia do trabalhador esperamos todos na praia. Começa as nove horas e vai o dia todo.

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