A PESCA ARTESANAL NAS PRAIAS
DA ILHA DE SANTA CATARINA
Por José Luiz Sardá
... à partir de meados do século XIX, as principais freguesias que se dedicavam à atividade pesqueira eram Ponta das Canas, Barra da Lagoa, Canasvieiras e Campeche”...
A pesca artesanal na Ilha de Santa Catarina representou grande importância na cultura local, dentre outros motivos por permitir ao açoriano que aqui chegou atividade de subsistência fundamental. Aliada à agricultura a pesca artesanal foi certamente um dos aspectos que mais contribuiu para a fixação do homem à terra, numa ilha que muitas similaridades tinha com as ilhas de Açores.
Como escreve Walter PIAZZA no seu livro " A colonização de Santa Catarina", no período de 1748 a 1756 desembarcaram em Santa Catarina cerca de seis mil imigrantes, em sua maioria açorianos. Além das terras o governo português havia prometido auxílio financeiro, incluindo transporte gratuito, armas, ferramentas, animais, farinha e isenção do serviço militar. Mas ao chegar à história foi outra. Os imigrantes ficaram sujeitos ao recrutamento já que um dos principais propósitos da colonização era garantir as terras do Sul sob a bandeira Portuguesa e pouco do que havia sido prometido foi cumprido ficando mesmo os imigrantes sujeitos ao confisco de alimentos.
Dado que as terras da Ilha não eram tão férteis quanto o solo vulcânico dos Açores a maioria das culturas que eram comuns aos açorianos ou que na época interessavam comercialmente à Coroa não tiveram sucesso e os colonos precisaram adaptar-se à outras culturas, como e principalmente pela lavoura herdada dos índios: a mandioca, que logo se tornou a base alimentar da população.
A pesca não tinha grande importância econômica e por isso tornou-se atividade subsidiária. A única atividade pesqueira interessante comercialmente foi à pesca da baleia que durou até o começo do século XX.
Na Ilha de Santa Catarina a partir de meados do século XIX, as principais freguesias que se dedicavam à atividade pesqueira eram Ponta das Canas, Barra da Lagoa, Canasvieiras e Campeche. O trabalho na pesca era intercalado com o trabalho na lavoura. Entre os meses de maio a julho, época da tainha, o homem deixava a roça e o engenho de farinha aos cuidados da mulher e dos filhos para sair ao mar. No século XX a pesca vai se tornar trabalho remunerado, tornando-se a agricultura atividade subsidiária aos cuidados sobretudo das mulheres e os filhos dos pescadores.
A pesca artesanal vai começar a perder importância em meados do século XX, quando vai se tornar comum a saída dos pescadores da Ilha para trabalhar em grandes embarcações no Rio Grande do Sul ou em Santos - SP, onde estavam localizadas empresas pesqueiras emergentes, estimuladas pelos planos de desenvolvimento nacional implementado no pós guerra.
Em Canasvieiras foi possível sentir claramente estas mudanças ao longo do tempo. São comuns as histórias de moradores hoje idosos que quando jovens trabalhavam em Santos ou em Rio Grande. Eram pescadores que cresceram pescando nas redes da praia, aprenderam o ofício na pesca artesanal e encontraram trabalho nos pesqueiros gaúchos e paulistas.
Em meados da década de 1970 o turismo torna-se a principal atividade econômica da região. Hoje ainda é possível assistir a uma pescaria com rede de arrasto principalmente no inverno época da pesca da tainha na praia de Canasvieiras. O rancho dos pescadores é atualmente uma espécie de fortaleza de resistência da atividade tradicional da pesca. A produtividade não compensa economicamente, porém tem significado cultural importante. A própria história da construção do rancho foi quase uma guerra entre especuladores do mercado imobiliário e pescadores locais. Em meados da década de 1980 os pescadores começaram ter dificuldade para encontrar abrigo para as suas embarcações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário