Agora, o poder público quer construir um terceiro porto, no Pontal do Paraná, a apenas 4 kms de distância. Ambientalistas entraram na briga.
Ilha do Mel: mais um porto em Pontal do Paraná é a nova ameaça
A ilha do Mel tem riquezas demais, e problemas demais. Mas o pior é a geografia, a Ilha do Mel fica na embocadura baía de Paranaguá, uma das portas do ‘Lagamar‘, um dos mais importantes berçários de vida marinha do Atlântico Sul já, também, cheio… de problemas.
A região já tem dois portos, agora querem mais um?
Há o porto de Paranaguá, e, mais ao fundo na baía de mesmo nome, o porto de Antonina. Portos são bem- vindos, e extremamente importantes para a economia. Mas são obras, inevitavelmente, de forte impacto ambiental. Será que o Paraná precisa mesmo um terceiro porto?
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A beleza da Praia de Fora
A contaminação gerada pelos portos do Paraná
Os dois já instalados geraram uma série de problemas constatados pelo Mar Sem Fim desde a primeira expedição pela costa brasileira, entre 2005 – 2007. Na ocasião conversamos com Fabian Sá, doutorando em Geoquímica Ambiental (UFPR). Ele contou da contaminação da baía de Paranaguá por metais pesados, arsênico e níquel. As duas substâncias, constatou, apresentaram níveis acima dos da Resolução do Conama que trata a questão.
Acidentes frequentes nos portos e a falta de visão do poder público
Perguntei como o porto de Paranaguá estaria preparado para lidar com acidentes, que são possíveis, e normalmente graves nesta atividade. Ele sorriu e respondeu o esperado: eles não têm planos, equipamentos, nada.
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O Vicuña em chamas (Foto: Gazeta do Povo)
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O Vicuña em chamas (Foto: Gazeta do Povo)
E contou que quando explodiu o navio Vicuña, carregado de metanol, em novembro de 2004, o combustível se extinguiu pelo fogo mesmo, quase dois dias depois do início das chamas. Durante o acidente muito pouco foi feito pelas autoridades portuárias a não ser observar, impotentes, o desenrolar da ação. Segundo o jornal Gazeta do Povo, “dez anos depois, o Litoral do Paraná ainda se ressentia dos danos do seu maior desastre ambiental. A pesca não havia sido de todo restabelecida.”
A bioinvasão provocada pela água de lastro
Perguntei aos professores da UFPR sobre a bioinvasão na baía de Paranaguá, um dos grandes problemas do litoral brasileiro. Todos, sem exceção, confirmaram casos.
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Navio desmastreando no porto de Paranaguá
Entre eles, um mexilhão exótico que está tomando o lugar dos nativos nos costões da Ilha do Mel; a proliferação de algas na baía, e até certos peixes estranhos que passaram a ser pescados e ainda não foram identificados.
A riqueza da ilha do Mel
Além da beleza natural, a ilha abriga a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, do século 18, com paredes com um metro e meio de largura, e o belíssimo Farol das Conchas, mandado construir por D. Pedro II em 1870, com materiais importados da Escócia.
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Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres
Mas sua maior riqueza está na biodiversidade: a ilha abriga ecossistemas variados como pequenas dunas, praias, uma linda e exuberante restinga, além de rios e lagos. Mas, se todos são importantes, um deles é dominante…
O Farol das Conchas
A restinga da Ilha do Mel
Na ilha do Mel 70% da área é de planícies com formação de restinga, neste caso, protegidas desde 1982, quando ela se tornou Estação Ecológica Estadual.
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A exuberante restinga da Ilha do Mel
Márcia Marques, do curso de ecologia da UFPR, autora do livro “História Natural e Conservação da Ilha do Mel”, se empolgou ao contar que a maior parte das restingas da costa brasileira tem formações vegetais rasteiras, com arbustos e moitas, no máximo. Mas, as da Ilha do Mel, ao contrário, têm formação florestal mais desenvolvida com árvores que chegam aos 20 metros de altura.
O turismo desordenado na Ilha do Mel
O turismo desordenado ameaça sua integridade faz tempo. A ilha foi “redescoberta” pelos hippies, nos anos 70. Depois, na década de 80, vieram os mochileiros e campistas que se hospedavam na casa dos nativos. Em seguida chegou a especulação. Mais uma vez as posses foram vendidas por preço de banana. Novos hotéis e pousadas foram feitos, hoje, quase todos nas mãos de gente de fora.
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Em cima do morro do Saco do Limoeiro é possível ver a quantidade de telhados entre a restinga. São parte das pousadas e hotéis que a ilha abriga.
À época de nossa visita havia nove mil leitos à disposição, um número que, para a fragilidade natural de um ilha, é exagerado. É muito difícil para um ambiente insular suportar um impacto diário deste tamanho. Durante nossa vista conversei com o biólogo Claro (UFPR), que também estuda a Ilha do Mel. Ele concorda que é demais a quantidade de turistas que freqüentam a ilha. E diz que o número foi “limitado” em sete mil por dia, mas no pico do verão chega a dez mil! A Ilha do Mel é a segunda área natural mais visitada no Paraná, atrás apenas do Parque Nacional do Iguaçu. Hoje, parece que o limite de visitantes é de cinco mil por dia, o que continua sendo gente demais.
O novo porto
Segundo o Gazeta do Povo “a região encontra-se na iminência de ser severamente impactada pela construção de novos empreendimentos portuários e de uma gama de obras acessórias em Pontal do Paraná.” E prossegue: “a implantação desses empreendimentos ainda não ocorreu pela resistência de pesquisadores e da sociedade civil, mas certamente deverá ser consumada em breve, especialmente neste momento de novo governo federal.”
O articulista, Emerson Antonio de Oliveira, coordenador do Observatório de Conservação Costeira do Paraná, conclui: “resta saber se, ao fim desse processo, haverá interesse pela visitação à Ilha do Mel, recursos pesqueiros à população e se os poucos fragmentos de Mata Atlântica da região resistirão à pressão da operação dos novos empreendimentos.”
Reação de ambientalistas e da academia
Até um site foi criado por ambientalistas e professores da Academia, o salveailhadomel.com.br, conta que “o Conselho de Desenvolvimento Territorial do Litoral do Paraná (COLIT) induzido por um representante do governo do Estado – aprovou ao fim da reunião o licenciamento de uma Faixa de Infraestrutura – que prevê a construção de uma nova rodovia de pista simples de 20 km de extensão e um canal de drenagem ligando praia de Leste à zona portuária e industrial de Pontal do Paraná, em frente à Ilha do Mel. Isso foi feito mesmo diante de ressalvas e protestos de organizações ambientais e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que integram o conselho.”
Se você também prefere que o Governo do Paraná melhore os dois portos existentes, antes de construir um terceiro, clique aqui, e mande sua carta de protesto. Mais de 101.000 mil pessoas já assinaram.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_do_Mel_(Paran%C3%A1); http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/o-tragico-destino-da-ilha-do-mel-68acd3nxi2p892hm2ud8m16el; http://salveailhadomel.com.br/.
(Do https://marsemfim.com.br/)
(Do https://marsemfim.com.br/)
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