MEMÓRIA DE CANASVIEIRAS
Ilhota do Argentino ou do Francês
Localizada no Norte da Ilha de Santa Catarina com 67.000 m² e a 800 metros da Praia de Canasvieiras está a Ilha do Argentino ou do Francês. Esta ilha é ícone e referência para quem visita a Baía de Canasvieiras. Sua vegetação é formada principalmente pela Mata Atlântica, costões rochosos e de difícil acesso, exuberante flora e fauna e duas pequenas praias.
Ainda hoje é denominada pelos pescadores e nativos das comunidades circunvizinhas de Canasvieiras como Ilhota ou Ilha do Argentino. Há uma nota publicada em revista local de 1949 por Celso Perrone que cita “dizem que seu nome, como é fácil de deduzir, proveio do fato de ter sido habitada há cerca de um século por um veterano da Grand Armée de Napoleão Bonaparte e que emigrara após a derrota de Waterloo.”
Já o escritor Virgílio Várzea (1863-1941), filho ilustre de Canasvieiras, cita em seu livro “Santa Catarina, a Ilha - 1900”: “...cerca de 600 metros ao mar da ponta de São Francisco, alteia-se a ilhota dos Franceses, ou simplesmente a Ilhota, como aí a denominam vulgarmente. De uma paisagem encantadora e cercada de altos rochedos, dispostos com suprema arte pela natureza, rochedos que se alongam como aríetes estranhos sobre as ondas tocadas de espuma – a ilhota dir-se-ia um desses pequeninos torrões do arquipélago Odisseu, onde deusas e ninfas olímpicas viviam, em tempos lendários...”
Ao longo dos anos a Ilha do Francês foi ocupada com sucessivas trocas de proprietários. Sua primeira ocupação deu-se em 1884 e nesta época o ponto de partida mais usado para se chegar até lá era pela Praia do Porto, pequena praia localizada no promontório abaixo da Igreja de São Francisco de Paula.
Desde 1884 é chamada popularmente de Ilha do Argentino e de propriedade particular excluída a orla, por determinação legal. Em 1894, metade da Ilha, com uma casa e muitas árvores frutíferas foi vendida ao alemão João Ignácio Schroeder segundo consta em escritura no Patrimônio da União. A Ilha vivia em êxtase, linda, florida com orquídeas e plantas raras, uma beleza sem par. Encantado com a profusão de orquídeas selvagens tratou de montar um orquidário.
”Este alemão foi meu tetra avô, o meu bisavô Joaquim da Costa casou-se com sua filha Virginia Schoroeder e até a sua morte foi o responsável pela guarda da Ilha. Ainda pequeno cheguei a conhecer a Vó Bisa, já o meu bisavô faleceu quando eu tinha meus vinte anos”.
Em 1916, o inglês John Williamson – que, supostamente, veio à cidade instalar a luz elétrica – comprou a ilha de Schroeder e ali instalou a sua oficina. O artigo de Perrone, antes citado, é justamente sobre uma visita ao inglês, que o descreve como um “perfeito gentleman, ao qual um já longo retiro de mais de dez anos não conseguira deslustrar”.
Após a morte de Williamson, em 1938, a posse foi para as mãos de Antônio Muniz Barreto “aos 7 anos de idade conheci o senhor Muniz Barreto, eu brincava muito nesta ilha, minha falecida mãe Rute Cunha Sardá sobrinha de Ruth da Costa Siqueira, desde moça trabalhou nesta Ilha”. Muniz Barreto foi o responsável pelo auge da beleza da Ilha do Francês, incrementando o orquidário e criando jardins com flores raras, importadas de todo o mundo. Entre elas, a orquídea elegante, uma variedade totalmente branca.
Minha mãe contava que o argentino era um milionário apaixonado pela Ilha, queria morrer e ser enterrado lá. Ele tinha um motorista de táxi exclusivo, que morava em Florianópolis, que se chamava "Boneco". Conta-se que quando ele chegava da Argentina, para chegar até Canasvieiras, o seu Boneco sempre tinha que estar livre. Ele fazia o transporte com muita dedicação e também por amizade e respeito e por isso era bem remunerado.
Vinha só para passar as férias, mas carregava consigo diversos empregados e era muito generoso para com eles. Com freqüência dava presentes aos pescadores e nativos conhecidos que chegavam até a Ilha. Quando Muniz Barreto envelheceu e adoeceu, os filhos não o trouxeram mais para o local. Hoje a Ilha do Argentino pertence aos seus netos.
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