segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O ÚLTIMO VOO DO ZÉ PERRI

No fim do ano, um dos maiores mistérios de França ficará resolvido. Um livro apresentará fotografias e provas inéditas sobre a morte do aviador francês Antoine de St Exupery, o autor de "O Principezinho". O autor da morte era um fã.

"Se soubesse que era Saint Exupéry naquele avião, nunca teria disparado"




Foi um segredo guardado durante 64 anos. Horst Rippert, piloto alemão da Luftwaffe, admitiu, aos 88 anos, ter abatido Antoine de St Exupéry ao largo de Marselha durante a Segunda Guerra Mundial. Filmado pelos autores do livro que verá a luz do dia em França, no fim do ano, combinou primeiro que o seu testemunho só fosse revelado após a sua morte - mas foi depois convencido a fazê-lo antes. O seu depoimento é uma das revelações deste livro, que apresenta fotografias inéditas, e outros pormenores inéditos sobre o autor de "O Principezinho", um dos livros mais populares do mundo inteiro. O piloto que abateu o avião de St Exupéry revela que desejou mil vezes não o ter matado, já que era um admirador do escritor francês. "Na nossa juventude, todos lemos e adorávamos os seus livros. A sua obra despertou a vocação de voar em muitos de nós", afirmou. "Se soubesse quem era, jamais teria disparado", confessou aos autores do livro.

A obra, cujo título não é conhecido, uniu os esforços de quatro autores: Luc Vanrell, o explorador subaquático que descobriu o avião de St Exupéry no fundo do mar, perto de Marselha, em 2004, a 83 metros de profundidade; Lino von Gartzen, um Alemão que fundou a Associação de Busca de Aviões Perdidos durante a Guerra; Bruno Faurite, piloto e investigador aeronáutico; e François d' Agay, sobrinho e afilhado do escritor.

Quem nunca leu "O Principezinho" e descobriu que "o essencial é invisível para os olhos"? Poucos, certamente - como poucos também serão os que não gostariam de ver resolvido o mistério da morte do autor francês, desaparecido após um último voo de reconhecimento, a 31 de agosto de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. O corpo do aviador, nunca encontrado, alimentou uma incerteza que se prolongou por décadas
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A morte de Antoine de St Exupéry, a 31 de agosto de 1944, no curso de um voo de reconhecimento fotográfico, estava até há pouco envolta em muitos mistérios. Boa parte deles são revelados no livro que agora conhecerá a luz do dia, em França, no fim do ano.

O ÚLTIMO VOO

Pouco passava das nove da manhã do dia 31 de julho de 1944 quando Antoine de St Exupéry descolou da base aérea de Borgo-Poretta, a sul de Bastia, na Córsega, a bordo do seu Lockheed Lightning P-38. A missão tinha como objetivo realizar um reconhecimento fotográfico para preparar o desembarque dos Aliados na Provença, fotografando as tropas alemãs em diversos pontos do país. Radares americanos na Córsega seguiram-no até Hyères, mas pouco depois os radares alemães também detetaram a sua presença entre Annecy e Grenoble, fazendo soar o alarme.

O piloto alemão Horst Rippert descolou da base de Aix-les-Milles com o fito de reconhecer e atacar o inimigo. A bordo de um Masserschmidt ME-109, o piloto teve pouca dificuldade em localizar St Exupéry, que surpreendentemente, voava abaixo da altitude de segurança. O escritor voava a 2000 metros de altitude, quando o normal é voar a 10 000 - o que o torna normalmente inalcançável. Sem dificuldades, Horst apontou, atirou e acertou. O avião caiu a pique sobre o mar, e ninguém se ejetou. Dias depois, quando a notícia do desaparecimento do escritor surgiu, Rippert pediu secretamente que não fosse ele a vítima do seu fogo. E manteve o segredo durante 64 longos anos
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O avião Lockheed Lightning P-38 que Saint Exupéry pilotava, na Segunda Guerra Mundial

A última nota do escritor, encontrada na sua secretária, dizia assim: "Se for abatido, não lamentarei. A termiteira futura espanta-me e odeio a sua virtude de robôs. Estava feito para ser jardineiro". Como se Antoine, 44 anos, intuísse a proximidade do fim. Por que razão voava tão baixo um piloto com mais de 6500 horas de voo?. O mistério nunca foi respondido, e décadas passaram sem vestígios de corpo ou destroços do avião de St Exupéry.
Até que em 1998, um pescador de Marselha, Jean Claude Bianco, pescou mais do que peixe nas suas redes. Uma pulseira prateada, com o nome de Antoine de Saint Exupéry e da mulher inscritos, voltou a dar fôlego a um caso cujas pistas haviam esfriado há muito. Este foi o ponto de partida para Luc Vanrell, arqueólogo submarino (e um dos autores do livro) iniciar uma busca que duraria 10 anos e viria a revelar os destroços de duas avionetas - um Messerschmitt do príncipe alemão zu Bentheim uns Steinfurt, e o Lightning de St Exupéry. Uma parte do aparelho encontra-se hoje no Museu do Ar e do Espaço de Bourget.
Do corpo de Antoine de St Exupéry, continua sem haver rasto. Mas a obra fala mais alto. O homem que escreveu que "amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direcção", ou que disse "aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós" não precisa de registo material para já constar no Panteão dos maiores.

(Do http://expresso.sapo.pt/)

Um comentário:

Unknown disse...

Seu Ernesto e o mar

Zé Perry avoou pelas bandas do Campeche e legou à humanidade uma obra belíssima, imortal. Há dúvidas em afirmar que os raros casos e ocasos da antiga Desterro o inspiraram, mas é uma especulação pertinente. A simplicidade do cotidiano dos ilhéus, sua gentileza e espontaneidade podem tê-lo feito refletir: “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. No entanto, quase nada foi dito – ou escrito – sobre a existência de uma narrativa fantástica (absolutamente desprezada pela História) que descreve as peripécias de outro renomado escritor por essas paragens, influenciando de forma indelével sua produção literária.
Aconteceu na década de 50. Aporrinhado de tanto rum e marlins, cansado das guerras e casamentos mal-sucedidos, resolveu simplesmente zarpar, sem aviso nem destino. Vagou pelo Atlântico por tempo e rumo incertos, até enfrentar uma insólita tribuzana e soçobrar na boca da barra, próximo ao Forte de Araçatuba. Foi salvo e acolhido pelos nativos, com os quais estabeleceu uma relação de gratidão e amizade. Apaixonou-se pela Ilha. Passou uma temporada inteira pescando tainha engajado como remeiro na companhia do Velho Eza. Aprendeu a técnica de cozinhar a rede de barbante pra pescar de arrastão, remendar e entralhar tarrafas, entalhar canoas e calafetar baleeiras. Enfim, trocou o mojito pela cachaça com limão galego, lagostim por pirão d’água com peixe escalado e o calor tropical pela friagem de vento sul. À noite, freqüentava a Venda do Seu Oscar pra esquentar corpo e alma. Atento, absorvia os causos da marujada entre butiás e rabos-de-galo, maracujás, sairinhas e saideiras. Contagiado pelo imaginário fecundo da troça (mestres do exagero e dissimulação) não resistiu e relatou uma saga incrível. Num clássico “portunhol”, alegou ter fisgado um espadarte gigante, que o arrastou por semanas oceano afora. O esforço o esgotou. Quando finalmente conseguiu matar o monstro, um cardume de cação mangona atacou e devorou seu prêmio, deixando o bicho só no espinhaço e ele desconsolado e de mãos abanando. Depois, a procela e o naufrágio... A turba não perdoou; gargalhou e chorou de rir! Desdenharam sua desventura e chamaram-no de lerdo, tanso, mentiroso. Perplexo e amuado, desde então desapareceu da paróquia. Alguns, dizem que partiu pras Índias Orientais num bote com as bruxas do Pântano. Outros juram que voltou pra Cuba, retomando a bem-sucedida carreira de correspondente internacional. Neste ponto, as controvérsias abundam. Indiscutível, porém, é o talento desse povo pra inventar uma boa estória...
Obs.: Fontes asseguram que um fotógrafo amador registrou o encontro entre Seu Ernesto H. e os locais. Infelizmente, a câmera estava sem filme!