A safra da Tainha 2017 contou com inovações importantes
As tainhas começam a deixar a nossa costa, mas um legado permanecerá no litoral Catarinense. Pela primeira vez, as associações, sindicatos e colônias que representam os pescadores do estado estiveram envolvidos diretamente com o monitoramento da pescaria pelos próprios pescadores – o automonitoramento. Boa parte do setor compreende a importância de gerar dados e ao que tudo indica, os próximos anos serão marcados por um número cada vez maior de pescadores e entidades monitorando a pesca nas demais regiões do país.
Em meio a um cenário de crise político-institucional e inúmeros problemas relacionados à gestão da pesca da tainha, o monitoramento feito pelos pescadores seguramente será lembrado como uma nova perspectiva para um setor carente de políticas públicas adequadas.
Uma das inovações dessa safra foi o Tainhômetro – um contador online que contabilizou, ao longo do período da safra, a produção de tainha em Santa Catarina, a partir de dados gerados pelos pescadores (www.tainhometro.com.br). Liderados por suas entidades representativas e com o apoio técnico da Oceana, participaram diretamente da iniciativa, a Associação dos Pescadores Profissionais Artesanais de Emalhe Costeiro de Santa Catarina (APPAECSC), que registrou ao longo da safra cerca de 290 toneladas; a Federação de Pescadores do Estado de Santa Catarina (FEPESC), 1.805 toneladas; o Sindicato dos Armadores e da Indústria da Pesca de Itajaí (SINDIPI), 1.121 toneladas e, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) em Laguna, 210 toneladas. No total, o Tainhômetro registrou a captura de 3.426 toneladas de tainha em Santa Catarina.
Mas onde alguns veem apenas números, outros enxergam dados essenciais para a gestão. De acordo com a Diretora-Geral da Oceana, Monica Brick Peres, dados pesqueiros são a base para o desenvolvimento sustentável da pesca. “Sem informações mínimas sobre a atividade não temos como manejar e planejar adequadamente uma pescaria. Precisamos saber quanto de pescado é desembarcado, qual a arte, a área e o tempo de pesca utilizado, além dos dados econômicos como preço de 1a comercialização e custos operacionais. Sem dados e sem manejo, o setor produtivo, os oceanos e a sociedade terão enormes prejuízos”. E complementa: “é fundamental que existam programas oficiais de monitoramento pesqueiro, mas, independentemente disso, o automonitoramento traz enormes vantagens para as organizações que passam a ser proprietárias das informações. Creio que com o tempo, essa iniciativa vai mudar toda a lógica e a relação da sociedade com o governo”.
É também o que pensam as lideranças das associações e sindicatos que participaram dessa construção. De acordo com Ricardo Rego, presidente da APPAECSC, o levantamento de informações sobre os estoques é a principal ferramenta para demonstrar que o governo não pode mais fazer política sem ouvir o conhecimento dos pescadores, artesanais e industriais. “Nessa iniciativa, fazendo pesquisa, conseguiremos reverter muito do que o governo passa para a gente em forma de dados que a gente não sabe de onde surgem, mas ainda podemos melhorar esse monitoramento, o que certamente acontecerá nas próximas safras”, declara.
Para Ivo da Silva, presidente da FEPESC, o monitoramento, no longo prazo, permitirá saber a possibilidade de melhoria ou piora da safra seguinte. Ele lembra que as informações precisam ser comparadas ano a ano, até que após um período de vários anos seja possível obter um retrato real do que vem acontecendo com a tainha. “O Tainhômetro nos motivou a continuar o trabalho de coleta de dados que já fazíamos de uma forma não tão sistematizada e nos permite ter a informação num prazo curto de tempo e de forma aprimorada”, relata.
Para Cida dos Santos, liderança do CPP em Laguna “Ainda existe uma certa desconfiança entre alguns pescadores sobre a utilização desses dados e é por isso que é preciso mostrar a importância dos dados para uma política mais benéfica para todos”. Ela explica também que o CPP pretende organizar um seminário de discussão dos resultados obtidos e dos aprendizados desse processo com a pesca artesanal de toda a região sudeste-sul. “Esperamos que pescadores de outros estados participem também desse encontro, isso vai deixar mais robusto o nosso monitoramento e quem sabe envolver mais parceiros nos próximos anos”, resume.
Outro marco da safra de 2017 foi a parceria entre pescadores artesanais e indústrias de Santa Catarina. Agnaldo Hilton dos Santos, coordenador da Câmara Setorial do Cerco do SINDIPI, lembra que há espaço para todos os tipos de pescarias e que não há porque pescadores artesanais e industriais atuarem separadamente na busca por melhores regras para a pesca marinha. “A cadeia produtiva da pesca é complexa e não pode ser alvo de uma política de gabinete, que não nos consulta. Agora nós temos os nossos próprios dados e vamos poder usar isso, juntos, como base para pedir mais pesquisa, mais monitoramento e políticas adequadas a esses resultados”, resume.
Com o final da safra, todas as organizações de pesca e a Oceana planejam avaliar juntos o trabalho feito e planejar os próximos passos para a safra de 2018. “O Tainhômetro registrou até o último dia, 31 de julho, mais de 3 mil toneladas, mas o valor final ainda pode mudar um pouco. A partir de agora, todos os dados serão revisados, analisados e, depois, comparados com o monitoramento oficial feito pela UNIVALI. Só assim poderemos trabalhar para ter mais engajamento e dados cada vez melhores”, afirma Monica.
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