domingo, 23 de julho de 2017

CHOVENDO PEIXES...

Catalina Garay guardou espinhos dos peixes que supostamente caíram do céu durante uma tempestade, dias antes. (Adriana Zehbrauskas para The New York Times) 

O fenômeno da chuva de peixes de Honduras

YORO JOURNAL
POR KIRK SEMPLE

YORO, Honduras — As coisas não são nada fáceis em La Unión, uma pequena comunidade na periferia de Yoro, área rural no centro-norte de Honduras.

A pobreza é geral, os empregos são escassos, grandes famílias vivem amontoadas em casas de tijolos de barro, e frequentemente as refeições se resumem a pouco mais que milho e feijão. Mas, de vez em quando, acontece algo extraordinário, algo que faz os habitantes de La Unión se sentirem muito especiais.

Do céu, eles dizem, cai uma chuva de peixes.

Acontece todos os anos, pelo menos uma vez, às vezes mais, afirmam, no final da primavera e começo do verão. E somente em condições específicas: uma chuva torrencial com trovoadas e relâmpagos, condições tão extremas que ninguém se arrisca a sair de casa.

Quando a tempestade passa, os aldeões pegam baldes e cestos e se dirigem até um pasto, numa espécie de baixio, onde a terra está coberta de centenas de pequenos peixes prateados.

Para alguns, é a única vez no ano em que têm a chance de comer peixes.

“É um milagre”, explicou Lúcio Pérez, 45, lavrador, que mora na comunidade La Unión há 17 anos. “Nós a consideramos uma bênção de Deus”.

Pérez ouviu várias teorias científicas do fenômeno; cada uma, segundo ele, repleta de incertezas.

“Não, não, não existe uma explicação”, afirmou balançando a cabeça. “O que vemos aqui em Yoro é que estes peixes foram enviados pelas mãos de Deus”.

O fenômeno acontece na cidadezinha e nos arredores há gerações, segundo os habitantes, e de tempos em tempos muda de lugar. Migrou para La Unión há cerca de 10 anos.

Os moradores de La Unión, em Honduras, afirmam que todos os anos uma forte tempestade deixa o campo coberto de pequenos peixes. (Adriana Zehbrauskas para The New York Times)

“Ninguém, em parte alguma, acha que haja uma chuva peixes”, disse Catalina Garay, 75, que, com o marido, Esteban Lázaro, 77, criou nove filhos em sua casa de adobe em La Unión. “Mas chovem peixes”.

Alguns moradores atribuem o fato às orações de Manoel de Jesús Subirana, um missionário católico que veio da Espanha e, em meados dos anos 1800, pediu a Deus que ajudasse a aliviar a fome na região de Yoro. Logo depois que ele fez o pedido, diz a lenda, começou a chuva de peixes.

“O povo o amava muito”, disse José Rigoberto Urbina Velásquez, gerente municipal de Yoro. “São tantas as histórias que contam dele que você se surpreenderia”.

Os que preferem a explicação científica propõem que os peixes podem habitar rios subterrâneos ou cavernas. Eles transbordam durante grandes tempestades e a água que sobe carrega os peixes até o nível da terra. Quando a chuva para e a inundação regride, os peixes ficam encalhados.

Segundo outra teoria, as nascentes de água sugam os peixes dos reservatórios vizinhos — talvez mesmo até do Oceano Atlântico, a cerca de 70 quilômetros de distância — e os depositam em Yoro.

Se alguém fez algum estudo científico do fenômeno, ele não é conhecido aqui. E em todo caso, muitas pessoas do lugar provavelmente não querem uma explicação deste tipo.

“É um segredo que só nosso Senhor conhece”, disse Audelia Hernández González, pastora de uma igreja evangélica de La Unión. “É uma grande bênção, porque ela vem dos céus”.

O fenômeno passou a fazer parte da identidade de Yoro e de sua população de cerca de 93 mil habitantes. Anualmente, se realiza uma festa na qual toda jovem do lugar compete para ser eleita “Señorita Lluvia de Peces” (Senhorita chuva de peixe), e a vencedora desfila em um carro alegórico vestida de sereia.
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“Para nós, é motivo de orgulho”, disse Luis Antonio Varela Murillo, 65, que morou a vida inteira na cidade. “Nós não gostamos quando um monte de gente não acredita nisso”, acrescentou, “dizendo que isto não passa de superstição”.

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