quinta-feira, 6 de abril de 2017

LÁ NO FUNDO

Embarcação Vital de Oliveira, que vai atuar no trabalhoFoto: Divulgação MD / Divulgação
Dagmara Spautz

Univali fará pesquisa de exploração de minerais em cordilheira submersa no Oceano Atlântico 
Universidade catarinense assina convênio nesta quarta com o Serviço Geológico do Brasil para o trabalho em profundidade superior a 800 metros

Pesquisadores brasileiros estão perto de iniciar uma jornada rumo à exploração de minérios no Elevado Rio Grande, uma cordilheira submersa que fica nas profundezas do Oceano Atlântico, há mais de mil quilômetros da costa entre o Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) contratou a Universidade do Vale do Itajaí (Univali) para fazer os primeiros levantamentos, que vão permitir uma futura mineração comercial com segurança. Por enquanto, o foco das expedições é identificar maneiras de executar o trabalho com o mínimo de impacto ao meio ambiente.

— Em terra, viabilizar a exploração de minérios leva cerca de 10 anos. No fundo do mar leva bem mais que isso. No momento estamos cumprindo as exigências internacionais para que essa área seja nossa — diz José Leonardo Silva Andriotti, diretor de Geologia e Recursos Minerais do CPRM.

O Elevado Rio Grande fica em águas internacionais, regidas pela Autoridade Internacional de Fundos Marinhos (Isba), órgão vinculado à ONU que estabelece regras para a exploração. Na prática, é como uma "corrida tecnológica": quem pesquisar e conhecer o espaço antes, poderá ter prioridade em uma eventual mineração. O acordo com a Univali é válido por um ano e, segundo Andriotti, levou em conta o trabalho desenvolvido pela universidade na área da oceanografia, reconhecido no país.

Pesquisadores da universidade já haviam participado de fases preliminares do estudo entre 2011 e 2012, no mapeamento da área. Já se sabe que no local a ser explorado há concentrações de ferro, manganês e cobalto, um tipo de minério valioso e que não é fácil de encontrar na superfície.

Maior laboratório flutuante da marinha

A área de exploração tem 3 mil quilômetros quadrados, e o volume de minérios que pode ser retirado ainda não foi calculado. Os mais otimistas falam em uma "nova Serra Pelada", em referência ao garimpo do Pará que foi considerado o maior do mundo a céu aberto, na década de 1980.

O pesquisador da Univali José Angel Peres, que vai coordenar o projeto, explica que as jazidas são como uma "camada" sobre o fundo do mar. E as técnicas de mineração ainda estão em desenvolvimento. O mais provável é que a exploração comercial seja feita através técnicas de raspagem ou aspiração — um modelo menos impactante, em tese, do que as explosões praticadas em terra firme.

As expedições da Univali junto com o CPRM serão feitas a bordo do navio de pesquisa Vital de Oliveira, considerado o maior laboratório flutuante da Marinha do Brasil. A ideia é conhecer de fato as características biológicas do espaço. Para tanto, a embarcação é equipada com aparelhos científicos de última geração, entre eles o ROV, um robô submarino que capta imagens em até 4 mil metros de profundidade. Diferentes tipos de sondas e instrumentos de captação de amostras de água também fazem parte do rol tecnológico que será usado nas expedições.

A viagem até o elevado demora quatro dias e o trabalho é delicado: o cume da cordilheira, que é a parte mais elevada e mais próxima da superfície, fica a 800 metros de profundidade. Cinco pesquisadores da Univali participarão do projeto.

Experiência internacional

O interesse sobre a mineração no fundo do mar é antigo, mas custa caro. No entanto, com as jazidas em terra firme cada vez mais escassas, a necessidade de apelar para os oceanos ficou mais urgente. O Japão, por exemplo, está bem avançado nas pesquisas para início de exploração, mas até agora nenhum país tem o aval para iniciar a mineração. Por isso, ainda não existe regulamentação — e assuntos como a distribuição de royalties não estão resolvidos.

Quando se trata de águas internacionais, ou seja, acima do limite de 200 milhas da costa, a ONU estabelece que qualquer país pode ficar responsável pela exploração, desde que tenha feito estudos adequados para a área e cumprido todos os condicionantes estabelecidos pela organização. O Brasil recebeu o direito de avaliar o Elevado de Rio Grande em 2015, com validade de 15 anos.n Nos cinco primeiros anos, os pesquisadores brasileiros terão que avaliar qual seria o impacto de uma possível exploração comercial de minério no local ao meio ambiente — etapa que terá o auxílio da Univali, em um contrato de R$ 500 mil.

A fase seguinte será avaliação das características da minerais e morfológicas da cordilheira submersa. Por fim, a terceira etapa do plano de trabalho prevê a seleção de áreas para estudo da viabilidade econômica, ambiental e técnica dos depósitos minerais identificados. A CPRM já vem estudando a elevação de Rio Grande desde 2009. Além dessa área, ao Sul, a estatal também atua em pesquisas semelhantes nas proximidades de Fortaleza (CE), Recife (PE) e Natal (RN). Essas, no entanto, são jazidas que ficam em águas brasileiras. O elevado de Rio Grande é a primeira experiência brasileira em águas internacionais.

Como será explorado o Elevado de Rio Grande

Sondas 
— Sonda multifeixes: mapeia a topografia do fundo do mar. Onde estão as elevações e os trechos de maior profundidade-sub botton profiler: um perfilador de fundo, equipamento que identifica a densidade do material do fundo do mar através da velocidade de propagação do som;
— ADCT: tipo de sonda calcula a direção e a velocidade das correntes em profundidade.

Coleta de amostras
— Rosette: equipamento que tem várias garrafas acopladas e que permite retirar amostras de água em diferentes profundidades. O aparelho indica qual a profundidade e a temperatura em cada ponto de coleta.

Imagens
— ROV: submarino-robô operado por controle remoto, que é usado nas explorações do pré-sal pela Petrobras. Suporta grandes profundidades e será responsável pela captação de imagens do fundo do mar.

(Do http://osoldiario.clicrbs.com.br/)

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