quarta-feira, 15 de março de 2017

JACK O MARUJO


- Bonito o que o senhor fala sobre o mar, capitão. Esse é um amor de longa data.
- Não é amor, é respeito, disse Jack o Marujo. Aprendemos com o mar pelo pior caminho. Falta chão no enjoo e na tontura, a pele salga no sol, o vento arrebenta as velas, as ondas nos naufragam, há calmaria em excesso, escassez de peixe e nenhuma água para beber.

- Se é tão pesada essa vida, porque insistir nela?

- Somos os escolhidos de Netuno. Temos uma missão e precisamos cumpri-la. Não importa o fardo, é uma questão de honra.
- E qual seria essa missão tão sagrada, capitão?
- Calar-se diante do mistério. Alguém tem que fazer esse serviço. E falar só o que não ofende a majestade do mar. Porque ele representa algo maior, ao qual não temos acesso.
- Achei que marinheiro era tudo igual e só gosta de contar vantagem.
- É verdade. Somos sempre os mesmos. Navegadores brutos, repasto de sereias.


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