Foto Lucas Correia / Agencia RBS
Alternativa de cotas de pesca é usada para proteger espécies em todo o mundo
Delimitação garante a pesca sustentável nos Estados Unidos, Canadá e Austrália, e países europeus
Dagmara Spautz
dagmara.spautz@osoldiario.com.br
Inédita no Brasil, a proposta de delimitação de cotas de captura é uma alternativa usada para proteger espécies e garantir a pesca sustentável nos Estados Unidos, Canadá e Austrália, além de países europeus. O pesquisador brasileiro Luiz Barbieri, que atua nos EUA, diz que o modelo é um sucesso no exterior:
– As companhias de pesca comercial agora têm uma cota previsível, mais constante, e que proporciona um retorno econômico mais alto. É uma forma de proteger tanto os estoques como a indústria pesqueira – diz.
As cotas são bem vistas por instituições como a Federação de Pesca de Santa Catarina (Fepesc) e parte da indústria. Mas será necessário estabelecer um modelo de desembarques que permita a catalogação das tainhas capturadas – o que não é simples.
Uma das possibilidades é a criação de um selo de certificação, que garanta ao consumidor que está consumindo uma tainha registrada e incluída na cota de captura.Mas é necessário um trabalho de conscientização, já que a limitação tende a aumentar o preço do peixe no mercado.
– Hoje não seria possível catalogar a produção total. Estamos tentando estabelecer um controle para estatística. Se os pescadores acharem que é uma boa alternativa, podem ajudar a construir em conjunto essas formas de controle – diz o pesquisador Roberto Wahlich, da Univali.
Diretora da Oceana no Brasil, Mônica Perez lembra que a sobrepesca é um problema mundial, e que alguns países conseguiram reverter a situação justamente com o estabelecimento e cumprimento de cotas.
– Sem prejuízo das outras medidas, a adoção de um limite de mortalidade é absolutamente essencial para evitar a sobrepesca. No Brasil, ainda não experimentamos essa medida. A tainha pode ser um início.
Captura não indica abundância
A safra artesanal histórica registrada em Santa Catarina este ano, com 3,5 mil toneladas de tainhas capturadas, trouxe aos pescadores que capturam o peixe em migração a sensação de que a tainha é abundante. Uma ilusão, de acordo com os pesquisadores. A explicação para capturas recordes, mesmo quando há menos peixes disponíveis no oceano, está no modelo de migração das tainhas. Quanto mais frio está, mais próximas elas viajam e mais compactos ficam os cardumes. Quando chega a rede, portanto, a captura é maior e mais fácil.
– Essa concentração é uma condição propícia a se pescar o que se consegue, além da capacidade de comercialização – diz o pesquisador Roberto Wahlich, da Univali, que participou do estudo da Oceana.
Acredita-se que essa situação tenha ocorrido em 2007, quando se registrou a supersafra, e agora em 2016, quando a tainha estava muito acessível nas praias, à pesca artesanal.Nesse cenário, a limitação para as embarcações industriais não é suficiente para proteger os cardumes.
– Precisamos que, independente do número de barcos autorizados, haja limite de mortalidade para a tainha – diz a pesquisadora Mônica Perez, da Oceana Brasil.
Diferente dos pescadores que capturam os cardumes já formados, no mar, a observação de quem atua nos estuários de onde migram as tainhas é de que as populações têm de fato diminuído. Nilmar Conceição, presidente do Fórum da Lagoa dos Patos, confirma a redução.
– Tem menos tainhas na lagoa, mas acredito que isso seja em função do clima.
(Do www.clicrbs.com.br)
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