Foto Salmo Duarte / Agencia RBS
Parece história de pescador, empolgação de momento ou memória curta, mas a percepção de quem acompanha a safra da tainha desta temporada é de que nunca caiu tanto peixe nas redes do litoral catarinense. A impressão não é à toa: em um mês de pescaria, foram capturadas 1,6 mil toneladas nas praias do Estado.
O montante já supera toda a safra da pesca artesanal do ano passado, encerrada com 1,4 mil toneladas. Como ainda restam dois meses de pesca na temporada e a melhor marca recente é de 2007, com pouco mais de 2 mil toneladas, tem sido difícil não falar em recorde nas rodas de conversa à beira do mar. Caso a temporada termine com pelo menos 3 mil toneladas, o que a essa altura não é improvável, será a melhor de toda a série histórica da pesca artesanal catarinense, considerando as quatro últimas décadas.
– Vamos ultrapassar, acho que será um recorde histórico. Vai ultrapassar 2007 – anuncia o presidente da Federação dos Pescadores em SC (Fepesc), Ivo da Silva.
O que tem multiplicado as toneladas de tainha nesta temporada, destaca o presidente da Fepesc, não é uma onda de sorte. O tempo frio e os ventos em condições favoráveis têm feito a diferença, mas há um fator que nada tem a ver com o clima: esta é a primeira temporada em que as embarcações industriais efetivamente têm de esperar por um mês até lançarem as redes no mar.
Por força de uma portaria federal que disciplina a pesca da tainha, a atividade industrial só começa amanhã.
A publicação já valia no ano passado, mas pescadores alegam que a restrição não foi seguida à risca na época porque o impedimento era recente e faltava fiscalização. A liberação de embarcações industriais também ficou mais rigorosa. Em 2014, 60 barcos tinham autorização para a atividade industrial. No ano passado, a permissão caiu para 50 e, nesta temporada, será reduzida a 40 embarcações.
Sem os grandes no caminho em maio, os cardumes deixaram de ser capturados em alto-mar no início da migração. Assim, as tainhas chegaram em maior quantidade às praias do litoral catarinense. Em um único dia na terceira semana da temporada, pescadores de Florianópolis recolheram 34 toneladas do peixe nas praias do Santinho e Lagoinha. Também no mesmo dia, pescadores de Bombinhas capturaram mais de 46 mil tainhas. O cenário só não é ideal para quem vive do mar porque os peixes precisam ser vendidos rapidamente e a preços reduzidos, na medida em que aumenta a oferta.
Lei da oferta e da procura no preço
Quem quer colocar uma tainha na mesa hoje paga, em média, R$ 12 o quilo, se a compra for longe da praia. Se a procura for mais próxima das comunidades pesqueiras, privilegiadas com as boas capturas, sai R$ 10. Com a ova incluída, o valor do quilo saía por R$ 12. Já a tainha sem a ova era vendida a R$ 8. No início da safra, o quilo chegava a custar o dobro dos preços atuais. É a lei da oferta e da procura.
Números não têm consenso
A atual temporada da tainha tem deixado os pescadores catarinenses de sorriso largo, mas ainda não está confirmado o recorde histórico. Isto porque, além de restarem dois meses de captura, as estatísticas são divididas entre a pesca artesanal, que já completa um mês, e a industrial, que só começa amanhã e corre o risco de não ser igualmente animadora.
Também existem diferentes bases de dados das safras, com números diferentes umas das outras, desde a década de 1980. O chamado Plano de Gestão para o uso Sustentável da Tainha, concluído no ano passado por técnicos de órgãos federais, considera dados de quatro bases diferentes para montar um ranking das últimas quatro décadas de capturas.
Com base no ranking organizado pelo plano é possível constatar que, desde o início da década de 1980, a safra catarinense não alcança mais a marca das 2 mil toneladas de tainha na pesca artesanal. Como a soma deste mês de maio já chega a 1,5 mil toneladas, há grande possibilidade de a safra atual superar as das últimas quatro décadas.
Mas safras catalogadas pela Federação dos Pescadores de SC (Fepesc) desde 2003, paralelamente ao controle oficial, indicam números à parte, com diferenças de até 60%. Segundo o controle da Fepesc, o ano de 2007 teve um pico de 2,1 mil toneladas de tainha recolhidas na pesca artesanal. Assim, a expectativa agora é de pelo menos superar essa marca.
Estado com vocação para as tainhas
A costa catarinense tem 531 km (7% do litoral brasileiro), abrangendo 34 municípios que abrigam até 337 localidades onde ocorre a pesca artesanal. A atividade pesqueira é praticada, em sua maioria, por meio de embarcações motorizadas. A pesca da tainha é a mais tradicional entre os pescadores artesanais, uma herança dos colonizadores açorianos, que usavam canoas de um pau só e redes de algodão.
Cerca de 8 mil pescadores têm renda baseada no litoral catarinense. Em 2012, período em que há dados analisados pela Fepesc, cada pescador capturou em média 272 kg de tainha durante a safra. Estima-se que a renda bruta individual foi de R$ 1.904,00 por pescador.
São reconhecidas três regiões de pesca de tainha em SC. Pouco mais da metade dos pescadores de tainha catarinenses são do sul (11 cidades, entre Passo de Torres e Palhoça). Cerca de um terço estão no litoral central (17 pontos na Ilha). Os demais estão concentrados ao Norte (14 municípios, entre Biguaçu e Itapoá).
(Do www.clicrbs.com.br)
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