RANCHOS E A PESCA DE ARRASTÃO
por José Luiz Sardá
Fico a imaginar nas primeiras décadas do século passado, tempo frio de inverno, época da tainha, em que os pescadores de Canasvieiras e das freguesias de Ratones, Vargem Pequena, Vargem do Bom Jesus, Vargem Grande e Cachoeira do Bom Jesus e comunidades circunvizinhas, deixavam os afazeres da lida doméstica e da lavoura a cargo das mulheres, e seguiam em direção aos diversos ranchos de pesca distribuídos ao longo orla. Para chegar até a praia, passavam pelos verdejantes e frutíferos campos de araçás e cajus, entre caminhos, trilhas, picadas e cômoros de areia.
A pesca artesanal representou grande importância na cultura local, dentre outros motivos por permitir ao açoriano que aqui chegou a atividade de subsistência. O trabalho da pesca era intercalado com da lavoura. Entre os meses de maio a julho, época da tainha, o homem deixava a roça e o engenho de farinha aos cuidados da mulher e dos filhos para sair ao mar. Meados do século XX a pesca vai se tornar trabalho remunerado, tornando-se a agricultura atividade subsidiária aos cuidados das mulheres e os filhos dos pescadores.
Na Ilha de Santa Catarina a partir de meados do século XIX, as principais freguesias que se dedicavam à atividade pesqueira eram Ponta das Canas, Barra da Lagoa, Canasvieiras e Campeche. Meados do século XX a pesca vai se tornar trabalho remunerado, tornando-se a agricultura atividade subsidiária aos cuidados das mulheres e os filhos dos pescadores.
A pesca artesanal começou a perder importância entre 1940 e 1950, quando muitos homens iam anualmente trabalhar nas parelhas de pesca em Rio Grande, São José do Norte e Cassino na safra da tainha e da corvina. Em Canasvieiras foi possível sentir estas mudanças. Naquela época a fartura era tanta que ninguém voltava para casa de mãos vazias. Os donos das redes sempre davam tainhas para os amigos e parentes.
Na praia de Canasvieiras, vinham pescadores das freguesias de Ratones, Vargem Pequena, Vargem do Bom Jesus, Vargem Grande e Cachoeira do Bom Jesus. Os pescadores donos dos ranchos e das redes de arrastão eram de famílias tradicionais: Seo Vida, Nicanor dos Santos, Manoel Sardá, Joaquim da Ilhota, Zilico, Joca Rufino, João Firme, Timóteo Siqueira, Deca do Belo, Dezinho Pacheco, Leôncio e Manoel Schroeder.
Atualmente restam apenas três ranchos de pesca. Um pertence a Associação de Pescadores de Canasvieiras, entidade fundada em abril de 2005, cujo objetivo é preservar a tradição e a cultura da pesca artesanal. Os demais são de nativos, que serve para a guarda dos apetrechos de pesca e esporádicas incursões ao mar. Ainda hoje é possível assistir lanços de arrastão, principalmente na época da pesca da tainha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário