quinta-feira, 10 de setembro de 2015

PELO MAR...


Há 28 anos, “Verão da Lata” trouxe maconha flutuando para o litoral brasileiro


Em setembro de 1987, um inesperado carregamento de latas de maconha foi despejado no litoral brasileiro, espalhando-se por praias cariocas e paulistas. Foi o que bastou para que a galera da época passasse a consumir o “presente divino” durante vários meses, virando o ano e batizando o verão de 1988 como o “verão da lata”.

O insólito verão completa agora 28 anos e é imortalizado no documentário Verão da Lata, dirigido por Tocha Alves e Haná Vaisman, e que estreou no canal a cabo History Channel em dezembro do ano passado. Virgula conversou com Tocha, que conta mais sobre aquele inesquecível verão.

Como surgiu o projeto de fazer o documentário Verão da Lata?
A ideia surgiu de vários lugares ao mesmo tempo. Primeiro, foi um amigo, Ricardo Ortiz, fotógrafo e produtor do documentário, que me apareceu com um roteiro de ficção sobre o assunto. Na época achei que fazer uma ficção seria “muita areia para o meu caminhãozinho” (risos), mas que um documentário eu poderia dar conta.

Na mesma época apareceu um pitching de ideias para documentários do History Channel, no 10º Fórum Brasil de TV. Participei e ganhamos. E para completar conheci a Haná Vaisman, roterista e co-diretora do filme, mais ou menos na mesma época também. Ela já tinha uma pesquisa. Foi uma conjunção de fatores eu diria.




Por que é usado o termo Verão da Lata se o fato ocorreu em setembro de 87? Seria porque as latas continuaram aparecendo até o início de 88?
É usado Verão da Lata porque foi uma coisa tão surreal que precisava de um nome. Além do fato de que as latas chegaram aos pouco. Primeiro no litoral norte de São Paulo e depois no Rio. Já era meio de outubro quando chegou no Rio, e continuou chegando pelo menos até janeiro.

Quais fatos bizarros ou engraçados vocês descobriram sobre o caso ao fazer o filme?
Vários fatos bizarros apareceram; um deles está no filme e é o desfecho da história. Não vou contar (risos). Outros fatos bizarros engraçados: em Ilha Bela (litoral norte de São Paulo) um motorista de ônibus de linha encostou o ônibus num ponto, desceu, foi até o mar, tirou a roupa, entrou na água e pegou uma lata. Ele tinha visto a lata enquanto estava dirigindo na orla da cidade. Ilha Bela foi dos lugares onde mais chegou lata.

Outro fato bizarro: muita gente “famosa” que procuramos para entrevistar para o filme se esquivaram de falar. De três formas basicamente: a) marcavam a entrevista e não apareciam; b) davam a entrevista e depois desistiam de autorizar a entrar no filme; c) diziam que não queriam participar de um filme sobre maconha.
Nossa, quanta ignorância, o filme não é sobre maconha. É uma história policial sobre uma operação mal sucedida de tráfico de drogas que gerou um fato pop.


Você tinha que idade na época? Chegou a viver essa fase,ou ouviu falar? Chegou a fumar um baseado da lata?
Eu era muito jovem nessa época; não fumei da lata. Mas claro que ouvi muito falar do assunto com todos os meus amigos mais velhos da época. Mas o que mais me incentivou a fazer o filme foi a ideia de desvendar uma lenda. Muitas pessoas entre 15 e 35 anos hoje em dia acham que isso era uma lenda, que não tinha acontecido. Eu quis fazer o filme para provar que aconteceu e foi muito divertido!


Qual o impacto dessas latas na cultura jovem brasileira da época?
O impacto foi em vários níveis. Acho que a droga em si deve ter influenciado muita gente criativamente. Naquela época, o Brasil estava entrando na redemocratização, primeiros anos sem ditadura. Com certeza a maconha ajudou. Mas também a lata virou gíria “da lata” quando algo era bom, virou camiseta, quadro, música (da Fernanda Abreu inclusive, Veneno da Lata).

O filme tem 60 minutos. Vocês pretendem fazer uma versão maior ou voltar ao assunto em outros projetos?
O filme tem este tempo porque foi feito para ser um especial de TV, com uma hora de duração. Até pensamos em voltar a este assunto transformando-o num longa, mas desistimos. Pelo menos por enquanto. Na época em que estávamos produzindo o documentário, não conseguimos captar nenhum centavo com as empresas brasileiras. Todas acabavam por declinar por não quererem ter seu nome envolvido num filme sobre maconha. Santa ignorância, Batman!

(Do http://virgula.uol.com.br/)

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