quinta-feira, 24 de setembro de 2015

NOS TEMPOS DE VIRGÍLIO VÁRZEA


MEMÓRIA DE RATONES


No livro, A Ilha de Santa Catarina, 1900 o autor Virgílio Várzea, cita que a denominação de Ratones tem origem nas duas ilhas situadas em frente ao pequeno estuário do rio Ratones, quase em meio à baía do norte, entre o Pontal e Anhatomirim; e que o povoado dos Ratones eleva-se na várzea banhada pelo rio do mesmo nome, pelo maior dos braços desse rio, dividindo-se em dois logo acima da foz, tomando o braço menor para o norte direito às terras de Canavieiras.

Segundo Várzea, foram os navegantes espanhóis os primeiros que aportaram na Ilha de Santa Catarina e ao avistarem essas ilhas, deram-lhes o nome de Ratones, pela singular semelhança de ambos com os animais dessa espécie de roedores e como eram dois, para distingui-las, passaram a chamá-los Raton Grande e Raton Pequeno, denominação que se conserva até hoje, bem como a designação geral de Ratones.

Este arraial expandia-se ao longo da estrada Real, pela falda-sul do morro da Várzea Pequena ou Várzea de Baixo e uma e outra margem do rio, cujas nascentes demoram à espalda setentrional do Moquém, monte de 390 metros de altura, que separa esta baixada dos planos do Saco Grande e para oeste, indo ramificar-se em Santo Antônio, em pequenas colinas e morros. Cita ainda, que pelo Moquém sobe um atalho, empinado e em tempo de chuva o acesso era dificílimo, mas valia pena andar por este caminho, pois encurtava consideravelmente a distância entre Ratones e a cidade de Desterro, poupando três quartos de hora da volta por Santo Antônio.

Esse atalho atravessava um dos pontos mais altos do monte, entre imensa floresta secular de mata cerrada e sombria, com perigoso desfiladeiro e que provocava desastres, principalmente nos trajetos noturnos. Apesar disso, este era o caminho preferido pela gente de todas as freguesias e arraiais desse lado da Ilha, que viajavam continuamente por terra entre os arraiais e a cidade. Na freguesia de Ratones observava-se o avultado negócio de galinhas e ovos, bem como o embarque de farinha, milho, cana e café e o movimento contínuo de pequenas embarcações no rio Ratones, como: lanchões, canoas e botes, e também de pombeiros da cidade, que percorriam todo o sítio, pelas voltas fundas nos meandros do rio Ratones em viagens de comércio.

Havia um local sobre uma das voltas do rio chamado Piçarras onde existiu uma ponte de madeira, por onde passava uma antiga estrada reconstruída, que vem da Várzea de Baixo em direção a Santo Antônio, atalhando quase uma hora a enorme curva existente entre a primeira localidade e a última, pela velha estrada Real.

O rio Ratones era por sua profundidade e largura, muito mais acessível a embarcações de pequeno porte que o rio Papaquara em Canavieiras, este sim, com maior movimento fluvial. A vegetação que flanqueava era como no outro braço, composta em sua maior parte de mangais, alternados em alguns pontos por barrancas elevadas onde se vêem pastagens e macegais de arbustos. Havia o Poço das Pedras, assim designado por pescadores nativos, por ser um dos sítios mais fundos do rio e pelo agrupamento de rochas que toma aí uma das margens, onde navegavam canoas de voga, batelões, botes e lanchões de 15 a 20 toneladas, todos em contínuas viagens de comércio entre Desterro e este arraial.

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