Pescadores ficam à espera da mancha vermelha do cardume de tainhaFoto: Lucas Correia / Especial
À espera da tainha: pescadores contam rituais de pais e avós para atrair boa safra em Balneário
Enquanto aguardam o peixe chegar nas praias de Balneário Camboriú, pescadores artesanais falam sobre os rituais que envolvem a atividade
Maikeli Alves
Sempre à espera, os pescadores artesanais de tainha são herdeiros do frio e do vento. Ficam ansiosos para ver uma mancha avermelhada se aproximando da costa. São simples e dizem não acreditar nas superstições e nos rituais dos pais e avós, porém, sabem contar cada história com precisão. Nas praias de Laranjeiras eTaquaras, em Balneário Camboriú, os profissionais revelam ter esperança em umaboa safra neste ano e têm a certeza de que, se depender das crenças, as redes estarão cheias.
Badalada no verão, a praia de Laranjeiras muda totalmente de cenário durante a safra da tainha, que abriu para a pesca com redes na sexta-feira. Uma das regras dos pescadores é manter a tranquilidade do local para que o cardume se aproxime da costa e garanta um bom lanço. O pescador Alberto Henke, 38 anos, conta que apesar de não acreditar em alguns hábitos, segue à risca a regra de não fazer barulho na praia.
_ A tainha é um peixe que procura calmaria e se assusta com muita movimentação. Por isso à noite as luzes são desligadas e a gente pede pras pessoas não correrem na praia. Antigamente, não podia nem arrastar o pé na areia _ comenta.
O pescador Rodrigo Rocha da Silva, 38 anos, também já ouviu essas histórias. Filho de pescador, ele conta que os rituais ultrapassam a questão do barulho:
_ Alguns diziam que se as aroeiras ficassem carregadas então a safra seria boa. Mulher grávida também não podia chegar perto da praia, porque espantava os peixes, e roupa vermelha era proibida.
Flor é sinal de boa safra
Nascido em um barco de pesca, Daniel Reinaldo Vicente, 45 anos, é filho e neto de pescadores. Criou-se na beira do mar e logo cedo já ajudava a família. Casado e pai de três filhos, ele conhece bem a pesca da tainha e diz que, se depender da crença popular, a safra deste ano será das melhores.
_ Eles diziam que se tivesse bastante flor de silva, uma florzinha branca que costuma aparecer no inverno, ia ser ano de tainha. Já vi tantas neste ano, espero que tenhamos muitos peixes _ afirma.
O pescador afasta as crenças e diz que diferença mesmo para eles faz a regra que afasta os barcos industriais da região até o dia 1º de junho. Além disso, ele explica que o tempo precisa colaborar.
_ Tem que dar frio e vento, daí a tainha chega perto da costa procurando águas mais quentes _ relata.
No ano passado os pescadores de Laranjeiras pescaram mais de 20 mil tainhas, superando os números de toda região. Conforme a Federação de Pescadores do Estado de Santa Catarina, a pesca artesanal foi responsável por 1,3 mil tonelada do peixe em 2014. Para este ano, a expectativa é capturar 1,5 mil tonelada em todo Estado. Mais de 10 mil pescadores também estarão envolvidos na atividade em Itajaí e região.
Surpresa a cada safra
_ A tainha é sempre uma surpresa. A experiência vai passando de pai pra filho, mas a gente nunca sabe como ela vai chegar por aqui _ diz o pescador Elaido Florsino, dono de redes de pesca em Taquaras.
Nascido em uma família de pescadores, o trabalhador conta que todo ano a safra da tainha é diferente. Em 2014, o grupo pescou cerca de 5 mil peixes e esse ano espera superar o número. Com décadas de experiência no mar, ele conta que o peixe é esperto: desvia dos barcos e sempre tenta escapar da rede.
_ Acredito que o peixe venha, o frio influencia também. A gente enxerga quando ele está entrando, porque fica uma mancha no mar. Aí vem bastante gente pra ajudar a puxar as redes _ explica.
O aposentado Donatilo Felipe Rocha, 64 anos, ajuda na pesca da tainha em Taquaras e espera que a safra seja melhor neste ano. Na segunda-feira passada, o grupo conseguiu capturar cerca de cem peixes, mas houve anos em que nenhum apareceu na região. De acordo com ele, o movimento de embarcações e na praia prejudica a safra.
_ Na nossa época era bem complicado, quando eu era criança não podia nem vir na praia por causa do barulho. Mas era gostoso, era tranquilo. Hoje estamos aí, esperando que dê um peixe pra gente matar.
(Do O SOL DIÁRIO ---.clicrbs.com.br)
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