Canoa do pescador Getúlio completou 100 anos de atividade na pesca da tainhaFoto: Diorgenes Pandini / Agencia RBS
Aberta a Safra da Tainha 2015 em Santa Catarina
Pescadores artesanais já estão liberados; redes anilhadas e industrial precisaram esperar mais um pouco
por Gabriela Wolff
Com a benção dos céus e festa no Campeche, foi declarada oficialmente aberta nesta sexta-feira a Safra da Tainha 2015 — 15 dias mais cedo do que o habitual. Com previsão de um inverno frio e com bastante vento, a expectativa é que sejam capturadas 1500 toneladas em Santa Catarina, segundo a Federação dos Pescadores do Estado.
Após reuniões em Brasília com o Ministério da Pesca e o Grupo Técnico da Tainha, foi estipulada que a pesca para os pescadores artesanais (remo) com rede de arrasto seria liberada a partir de hoje, no dia 15 de maio para as embarcações a motor com rede anilhada e em 1º de junho para os barcos industriais. O presidente da Federação, Ivo Silva, explica que antes a data era a mesma — 15 de maio -— para todas as embarcações:
— Chegamos a um consenso com o Ministério da Pesca com estas datas, e ontem (quinta) saiu o documento oficial. Vai ser uma experiência, vamos ver como vai funcionar, se vai ser mais justo para todos os pescadores, e se der certo vamos continuar — disse.
Aniversário de Canoa Centenária e festa no Campeche
A festa de abertura, no Rancho de Pesca Cultural, no Campeche, reuniu milhares de pessoas para celebrar a cultura da pesca da tainha e outras tradições da Ilha. O presidente da Associação dos Pescadores do Campeche, Getúlio Manoel Inácio, 64 anos, comemorou o centenária da canoa Glória, herdada do pai, que ainda está em atividade:
— Fiz uma reforma boa, agora vai durar mais quarenta anos. Esse tipo de canoa (de um pau só, feita de guarapuvu) já não é mais fabricado e essa mesmo tem muita história. Acho que minha mãe ficou grávida dentro da canoa. O dia que não estiver mais boa eu paro também — falou.
Com a memória de um menino aos 90 anos, o pescador Manoel Nazário Martins, o Maneca, relembra os tempos em que a praia do Campeche era habitada somente por pescadores e os poucos moradores nativos:
— Na praia a gente não viu essa quantidade de gente, não existia turista. Vinha tarrafear com meu pai, mas era sempre de noite, porque de dia ele trabalhava no engenho, fazendo farinha. A época da tainha, como até hoje, era a mais esperada. Um vez eu matei 70 tainhas sozinho na rede. Também pegava muita anchova, ficava mais de um mês em rancho na Ilha do Campeche — recorda.
Seu Maneca, 90 anos, é pescador nativo do Campeche
Foto: Diórgenes Pandini / Agência RBS
Mesmo tendo trabalhado por 30 anos como a agente prisional, Maneca nunca deixou a pesca de lado, mas há cinco anos precisou parar de vez por conta da saúde, após colocar uma marca-passo:
— Vendi minha canoa e minha rede, mas venho sempre aqui olhar e conversar com os amigos _ contou. Ao assistir a corrida de canoa na estiva (madeiras que são colocadas embaixo da canoa na areia para facilitar o transporte), Maneca lembrou os tempos em que puxavam rapidamente os barcos até o mar, para não deixar passar nenhum cardume.
Time Anchova e time Tainha se enfrentaram na corrida da canoa na estiva Foto: Diórgenes Pandini / Agência RBS
(Do HORA DE SANTA CATARINA - www.clicrbs.com.br)
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