terça-feira, 26 de maio de 2015

ALFREDO, PESCADOR!


"SOLAPÃO" SÓ TEM NA ARMAÇÃO

*Alfredo José Rosa


"Na década de 1940, na região de Armação de Itapocorói, todos os anos, nos meses de julho, agosto e setembro, quando a maré, nas épocas de lua, se apresentava mais baixa, o povoado, em geral, amanhecia nas praias para catar goiá, siri candeia, búzios e o nosso “solapão”, que existia em grande quantidade. Este ultimo tem a forma cômica com seu miolo em espiral, e não sei por que razão, só era encontrado em grande quantidade ao redor de nosso ancoradouro, entre a ponta da cruz e a pedra da fortaleza. 

Na coroa, em frente a nossa centenária igreja de São João Batista, estava a maior quantidade da espécie entre os búzios e outros crustáceos e moluscos. As pedras da Praia da Cancela era outro ponto de grande concentração desta iguaria. O povo mais antigo, com carência de víveres alimentícios, se aproveitava bem dos crustáceos e moluscos nas marés baixas e enchiam os fogões de lenha com grandes panelões. Eles ferviam até ao meio dia aquelas iguarias com água do mar e usavam limão como tempero. Era um almoço excelente!

O solapão possui, como defesa dos inimigos, uma pedrinha branca madrepérola na entrada de sua casa. Após bem fervido, e como a carapaça é em forma de rosca, é preciso usar uma agulha mais ou menos resistente e penetrar entre a pedra e a lateral da carcaça. Girando a direita da rosca, retira-se todo o miolo composto de três partes. O primeiro, e a parte dura também comestível, o segundo, o meio da peça, se compõe das vísceras que é retirado. A terceira parte vem é a ova em forma de rosca, muito saborosa.

No passado havia maior quantidade deste produto, mas como ele vive e se alimenta grudado nas pedras submersas, a poluição tem diminuído seu desenvolvimento. Mas permanece o mistério: Por que, em tantas baías e enseadas em Santa Catarina, só no ancoradouro de Armação o solapão encontrou seu habitat? Qual á origem deste animal e como chegou a nossa região? Um pouco mais para o sul, o mesmo é conhecido como “rosca“ devido ao seu formato. No litoral de São Paulo, ou mais precisamente, em São Sebastião, o caiçara o chama pelo nome indígena de “Saquaritá“. 


(Publicado originalmente no "Diarinho," em janeiro de 2006, e recentemente em "Alfredo Pescador"  - Editora Ipêamarelo - Itajaí)

* Alfredo José Rosa foi pescador, comerciante e autor da coluna "Histórias de Pescador" na Revista Pesca & Navegação, editada pelo Jornal Diário do Litoral  de Itajaí/SC.
Nascido em Armação do Itapocoroy, marco histórico do município de Penha, SC, foi também vereador e gerente de frota da empresa de pescados "Confrio".

* Para adquirir o livro, pelo mail cidarosa@hotmail.com
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