quarta-feira, 11 de março de 2015

MAR DE SARDINHAS

Foto Marcos Porto / Agencia RBS
No auge da safra de um dos peixes mais consumidos no litoral, demanda das indústrias faz preço disparar 

Maikeli Alves
maikeli.alves@osoldiario.com.br

A produção de 14 mil toneladas nas três primeiras semanas de captura da sardinha em Itajaí ainda não reflete no mercado. Do peixe capturado, 90% têm sido absorvido pela indústria de enlatados. A sardinha que sobra chega ao consumidor final em quantidade insuficiente e com preço alto. Mesmo no auge da safra, o quilo do pescado fresco pode chegar a R$ 6 no Mercado do Peixe, onde na segunda-feira apenas dois boxes vendiam o produto. Nos bairros ainda é possível comprar o quilo por R$ 4.

Além do clima interferir na safra, a demanda das enlatadoras é o que mais tem feito os estoques diminuírem no mercado. O presidente do Sindicato dos Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), Giovani Monteiro, argumenta que asindústrias se comprometeram com os armadores a reduzir em 80% as importações para absorver o pescado nacional. Somente a enlatadora Camil, por exemplo, comprou em dois dias 800 toneladas do peixe.

— No ano passado a indústria não conseguiu absorver tudo que foi pescado na região, por isso houve esse compromisso de diminuir a importação — afirma.

Com uma maior procura da indústria, as embarcações têm dado prioridade aos contratos já firmados, que se tornam mais vantajosos para o pescador. O armador Martinho César Auth conta que em função disso, muitas vezes, não sobra peixe para vender a terceiros.

— Além disso, neste fim de semana acabou entrando uma produção muito baixa de sardinha. Devemos receber mais nesta terça — comenta.

O secretário da Pesca e Aquicultura de Itajaí, Agostinho Peruzzo, elenca outro fator para a baixa oferta do peixe na cidade. De acordo com ele, a captura da sardinha tem se concentrado na região do Rio de Janeiro, fazendo com que as descargas do pescado fiquem por lá.

— Nos últimos três anos a captura foi meio a meio entre os estados de Santa Catarina e Rio de Janeiro. Neste ano, no entanto, percebemos que 60% da pesca têm ocorrido no Rio, então para as embarcações não compensa trazer esse pescado até o município, sairia mais caro e o peixe não chegaria fresco — observa.

Mercado do Peixe tem demanda, mas boxes não receberam sardinha

Pela percepção dos vendedores e pelos números de comercialização, o mercado que envolve a sardinha sofre influência direta da indústria. A vendedora de um dos boxes do Mercado do Peixe de Itajaí, Marivone Furlaneto, explica que o local não recebe o pescado desde sábado, quando ocorreu a última descarga. De acordo com ela, o peixe que chega para a comercialização também não tem dado conta dademanda, fazendo com que os preços fiquem mais salgados.

— Eu tinha uma caixa de sardinha, mas já vendi quase tudo. As pessoas acabam reclamando do valor, mas pra nós o peixe tem chego por uma média de R$ 3,50, porque os armadores não vendem direto, tem uma pessoa que intermedia — comenta.

Outro vendedor, que não quis se identificar, afirma que a sardinha só chega ao mercado quando os barcos capturam uma grande quantidade do pescado. Segundo ele, quando a produção é menor o destino acaba sendo focado na indústria.

— Pra eles é mais vantajoso vender tudo para enlatadora do que alguns quilos pra nós. Hoje o preço do charuto que chega é entre R$ 3,50 e R$ 5,00. A procura sempre é grande ainda mais nessa época, mas o problema é que está faltando peixe — conclui.


(Do O SOL DIÁRIO - www.clicrbs.com.br)

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