Uma baleia-franca-austral entre o Golfo San Jose e o Golfo Nuevo, Península Valdés, Argentina, 2004.
(Foto Sebastião Salgado / Amazonas Images)
(Foto Sebastião Salgado / Amazonas Images)
Sebastião Salgado diz que se 'sentiu natureza' em expedições fotográficas
'Genesis' entra em cartaz no MON, em Curitiba, a partir desta quinta (6).
'Rodei o planeta todo buscando o que tem de protegido', afirmou.
por Thais Kaniak
Do G1 PR
Duzentas e quarenta e cinco imagens foram selecionadas para representar oito anos de trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado ao redor do mundo. “Genesis” traz registros de 32 viagens com temas como montanhas, desertos, floretas, tribos, aldeias e animais. A mostra pode ser conferida em Curitiba, no Museu Oscar Niemeyer (MON), a partir desta quinta-feira (6). Com curadoria de Lélia Wanik Salgado, a exposição segue em cartaz até 15 de março. “Rodei o planeta todo buscando o que tem de protegido”, afirmou Sebastião Salgado.
Sebastião Salgado falou com a imprensa sobre a
exposição 'Genesis'
(Foto Thais Kaniak / G1)
(Foto Thais Kaniak / G1)
O objetivo do fotógrafo com “Genesis” é mostrar ao público ambientes que ainda não foram atingidos pela vida moderna e que continuam intactos na natureza. “Isso aqui é uma espécie de balanço do planeta. Isso que está aqui representado, com essas fotografias, é o que nós temos obrigatoriamente a necessidade de proteger – não só pro planeta, mas para a nossa espécie”, afirmou Sebastião Salgado em entrevista coletiva concedida.
O fotógrafo conversou com a imprensa sobre a exposição e também abordou outros temas que vão além da fotografia como a falta de água em São Paulo. Ele ressaltou a necessidade de reconstruir o que foi destruído na natureza pela humanidade e enfatizou o valor das culturas indígena e africana.
Sobre as viagens que frutificaram “Genesis”, Sebastião Salgado foi enfático: “Chorei de emoção em me sentir parte desse planeta, me sentir natureza”. Ele disse que o que mais incomodou durante a jornada foi perceber que as fronteiras das partes do planeta ainda protegidas estão sendo reduzidas. Contudo, o fotógrafo relatou uma boa nova. “Temos uma boa notícia: 46% do planeta está dessa forma [pura], que essas fotografias representam. Nós descobrimos uma boa metade, ainda temos quase uma metade. E, essa metade, lógico que a gente tem que proteger”.
As mulheres mursi e surma são as últimas mulheres do mundo a usar discos para estender os lábios. Dargui, povoação mursi no Parque Nacional Mago, perto de Jinka, Etiópia, 2007
(Foto: Sebastião Salgado / Amazonas Images)
(Foto: Sebastião Salgado / Amazonas Images)
Culturas indígena e africana
Sebastião Salgado criticou a falta de respeito com que a sociedade trata os índios. Para ele, as culturas indígena e africana foram “as que mais fizeram” pelo povo brasileiro. “Foi a base do Brasil”, definiu ao levar em consideração que, após a chegada dos portugueses, à época do descobrimento, a nação foi “multiplicada” pelos indígenas primeiramente e, depois, pelos africanos. “Só vieram homens portugueses em 1500. As primeiras mulheres portuguesas vieram 50 anos depois e eram só cinco. Então a maior contribuição racial brasileira é indígena e africana”, disse.
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“Nós devemos respeito à cultura indígena e nós não respeitamos. Nós achamos que é terra demais para pouco índio. Não é verdade. Aquilo é terra da União, de todos nós, e os índios são guardiões. E olha, o que tem de área verde no Brasil ainda preservada, se você olhar direitinho, são as reservas indígenas. Nós temos que agradecer muitíssimo a essa preservação e temos que respeitar profundamente essa cultura”.
Preservação da natureza
Sebastião Salgado também abordou o cuidado com o meio ambiente. “Nós dependemos muito da preservação e temos obrigação de reconstruir um pedaço do que destruímos. Destruímos muito. Em um país como o Brasil, nós utilizamos um terço de terras que foram recuperadas à natureza. Os outros dois terços estão abandonados porque as terras estão degradadas”.
O fotógrafo usou o que acontece hoje em São Paulo como um exemplo do reflexo da destruição da natureza pelo homem. “Uma falta de água tremenda e está todo mundo esperando chover para encher os reservatórios. Reservatório não tem que ser enchido por água de chuva, tem que ser enchido por água de rio. É que nós não temos mais rio. Nós matamos os rios. Nós destruímos todas as árvores em torno das fontes de água, destruímos as matas ciliares, e hoje os rios não têm mais água. Então, estamos num momento dramático”, pontuou.
'Genesis' fica em cartaz no Museu Oscar Niemeyer até 15 de março
(Foto Thais Kaniak / G1)
(Foto Thais Kaniak / G1)
Depositário do futuro
Engajado, Sebastião Salgado defendeu os museus como depositários para gerações futuras – tanto que anunciou a doação de cinco obras da exposição para o acervo do MON. “Aqui [museu] é um pedaço da nossa história. O que estiver aqui dentro guardado e for mostrado para as gerações daqui cem, duzentos anos, conta um pedaço da história desse momento. Então, nós tínhamos que ter essa preocupação de guardar uma parte de recursos para obras de arte. Como as coisas não acontecem assim no Brasil, nós doamos com um prazer imenso para entidades públicas, para que sirvam para todos”.
Seções temáticas
A mostra é dividida em cinco seções temáticas: Planeta Sul, Santuários, África, Terras do Norte, e Amazônia e Pantanal. “Genesis” já passou por São Paulo, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Fora do Brasil, a exposição esteve em cartaz em países como Suíça, França, Itália, Inglaterra e Canada. Em 2015, China, Coreia, Alemanha e Portugal vão receber a mostra.
“Genesis” é o terceiro mergulho de longa duração, na obra de Sebastião Salgado, em questões globais. “Trabalhadores” (1986-1991) e “Êxodos” (1994-1999) retrataram as consequências das radicais mudanças econômicas e sociais sobre as vidas humanas.
Serviço
O Museu Oscar Niemeyer fica na Rua Marechal Hermes, nº 999, no Centro Cívico. Os ingressos custam R$ 3,00 (meia-entrada) e R$ 6,00 (inteira). Menores de 12 anos e maiores de 60 anos têm entrada gratuita. O museu funciona de terça-feira a domingo das 10h às 18h.
Perseguidos por caçadores furtivos na Zâmbia, os elefantes (Loxodonta africana) têm medo dos homens e dos veículos, e geralmente, entram rapidamente no mato, assustados. Parque Nacional de Kafue, Zâmbia. 2010
(Foto Sebastião Salgado/Divulgação)
Na região da bacia do Xingu, estado de Mato Grosso, um grupo de indígenas waurá pesca na lagoa Piyulaga, perto de sua aldeia. Mato Grosso.
(Foto Sebastião Salgado/Divulgação)
(Foto Sebastião Salgado/Divulgação)
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