Em condições normais, a Ilha de Santa Catarina e ilhas circundantes integram um sistema que pode contribuir para uma considerável produção pesqueira, mas atualmente esta potencialidade está seriamente comprometida.
A falência da pesca tradicional não é causada somente pela super explotação dos estoques, pela pesca predatória, e tampouco a solução se dá pela melhor instrução e aparelhamento dos pescadores, barcos, etc. A falência da pesca passa por tudo isto, mas tem também outra causa ainda mais grave, que só pode ser entendida quando ingressamos no mundo submarino e na "casa” dos peixes. Só assim passamos a entender melhor as causas da falência da pesca.
A atividade pesqueira depende do aporte contínuo de peixes, e isso não acontece por milagre. Quando são pescados, os peixes não são repostos como num videogame. Os sobreviventes precisam de segurança para se reproduzirem e crescerem, e para isso buscam locais com condições adequadas no mar. Por instinto, peixes relacionam redes, linhas, nylon, cordas, poitas, chumbadas, anzóis, etc, com ameaças. Eles se estressam, afastam-se, e dificilmente se reproduzem onde isto esteja presente. Mesmo os peixes jovens parecem obedecer a estes instintos, e evitam locais onde a paisagem tenha estas características.
Quando percorremos o entorno da Ilha de Santa Catarina e ilhas circundantes, ficamos impressionados com inúmeros segmentos de redes, alguns com muitas dezenas de metros, perdidas no fundo. Muitas vezes elas continuam pescando, e podem estar matando animais diuturnamente, por décadas, sem trazer benefícios a ninguém. Boa parte da falência da pesca deve-se a estas armadilhas macabras que transformam paraísos marinhos em cenários de terror.
Muitos abrigos, tocas, fendas e cavernas, que deveriam estar ricos em peixes, têm por perto em grande quantidade, algum tipo de linha de nylon, chumbo, anzóis, e toda sorte de cordas e âncoras enferrujadas.
Este cenário de guerra ao pescado reflete as razões pelas quais os peixes deixaram de ser tão encontrados por aqui, portanto, um incremento na atividade pesqueira é praticamente inviável.
Boa parte dos peixes que sustentam a atividade pesqueira provêm de deslocamentos migratórios, que não dependem tanto das condições locais de conservação, porém mesmo estes peixes parecem influenciados por sinais propagados no mar.
Se as condições de conservação dos ambientes marinhos fossem adequadas, não só as espécies demersais estariam mais presentes, como também as pelágicas, possibilitando a recuperação das populações de peixes, e por consequência, podendo incrementar a atividade pesqueira.
Alcides Dutra
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