terça-feira, 12 de novembro de 2013

ESPUMANTES

O que causa a espuma dos oceanos?



Se você já se deparou com quantidades grotescas de espuma no mar, deve ter se perguntado se aquilo podia ser natural, ou se era mais um sinal da falta de consideração humana, como despejar seu sistema de esgoto no oceano.
A resposta é: qualquer uma das duas coisas. A espuma no ambiente aquático pode se formar naturalmente, ou pode ser causada pelos seres humanos.
Para formar espuma, é necessário ar, água e um terceiro ingrediente chamado “surfactante” – um tipo de molécula pegajosa que se agarra à superfície entre a água e o ar.
Este ingrediente surfactante pode vir de um monte de lugares. Entre os produtos feitos por humanos, pode vir de fertilizantes, detergentes, fábricas de papel, curtumes de couro e esgoto. Ou o surfactante pode vir de proteínas e gorduras em algas e outras plantas marinhas.
Muitas moléculas diferentes podem atuar como agentes surfactantes, mas todas têm uma coisa em comum: uma extremidade da molécula é hidrofílica (atrai a água) e a outra é hidrofóbica (é repelida pela água).
Quando um grupo de moléculas surfactantes se mistura com água e ar, todas querem alinhar-se até à borda, com uma extremidade voltada para a água e a outra de frente para o ar. Elas até alinham-se costas com costas, de modo que as extremidades hidrófilas apontem uma para a outra, com uma fina camada de água no meio. Essa camada fina de água tem a forma de uma esfera, porque essa forma requer menos energia do que qualquer outra.
Pronto, é uma bolha.
Espuma natural

Há vários relatos de “quantidades incomuns” de espuma formando-se perto de grandes florações de algas. Grandes quantidades de carboidratos e proteínas são liberadas pelas colônias de células mucilaginosas, dando origem a grandes quantidades de espumas e muco viscoso na água.

“Quando as proteínas ou carboidratos de algas chegam perto da costa, as ondas agem como um ‘grande liquidificador’”, explica Raphael Kudela, ecologista marinho da Universidade da Califórnia em Santa Cruz (EUA). “A agitação física as quebra e as deixa se reformar como espuma, e a espuma é então arrastada para a costa, onde se acumula”.

Sendo assim, espuma pode ocorrer naturalmente no mar, como a que cobriu uma pequena vila de pescadores na Escócia no final de setembro (foto abaixo), ou como o “oceano de espuma” da costa de Yamba, no estado de Nova Gales do Sul, a sudeste da Austrália (foto no início do artigo).


No caso da Escócia, uma tempestade causou o fenômeno. Na Austrália, o evento ocorre mais frequentemente, quando a água do mar começa a bater devido a fortes correntes marítimas, o que produz um grande acúmulo de bolhas de ar que, por sua vez, provocam o acúmulo de sais, produtos químicos, plantas mortas, e peixes e algas em estado de decomposição.

Espuma no mar, não entrar?

Em qualquer quantidade, a espuma natural no mar é geralmente inofensiva. O mesmo não pode ser dito da causada pelo homem, já que saber se é segura ou não depende de saber quais ingredientes estão a causando.

Então podemos nadar com espuma no mar? Sim. Mas, na Austrália, por exemplo, embora as autoridades não proíbam as pessoas de banharem-se no oceano quando o fenômeno ocorre, também não as incentivam, já que pode haver galhos e pedras sob a densa espuma, que podem machucar os banhistas.

Por fim, vale lembrar que os especialistas consideram a espuma “geralmente” inofensiva. Como biólogos marinhos da Califórnia (EUA) descobriram alguns anos atrás, elas podem prejudicar animais em alguns casos.

No outono de 2007, o biólogo Dave Jessup começou a investigar uma doença misteriosa que deixou centenas de aves marinhas mortas ou encalhadas. Pensando que as aves poderiam ter sido vítimas de um derramamento de óleo (o petróleo retira a impermeabilização das penas dos pássaros, expondo-os ao frio e exigindo que os animais queimem seu excesso de energia para gerar calor), os cientistas enviaram uma amostra do lodo encontrado nas aves para análise. Os testes mostraram que ele não era um produto do petróleo, no entanto.

Jessup então começou a investigar outra causa possível: a chamada “maré vermelha”, uma floração anual de algas que dá à costa uma tonalidade marrom-avermelhada. A floração tinha sido extraordinariamente grande naquele ano, e Jessup já tinha visto caso de algas tóxicas antes.

No entanto, o organismo causador da maré vermelha, Akashiwo sanguinea, não tinha efeitos prejudiciais para a vida. Ainda assim, o movimento da floração ocorria junto com o horário e o local de encalhe das aves. Como as algas em si não eram tóxicas, não poderiam ser a causa direta da aflição dos animais. A única suspeita restante eram as pilhas enormes de espuma que apareciam na praia perto da maré vermelha.

Jessup finalmente entendeu o que prejudicava os pássaros. A espuma se formava ligando-se a uma proteína das algas da maré vermelha, e, quando as aves entravam em contato com ela, perdiam sua impermeabilização por conta das moléculas ficando presas em suas penas.

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