Empresa espera licença para operação experimental do transporte marítimo em Florianópolis
Linha entre Beira Mar Norte e Canasvieiras é o primeiro itinerário definido. Barco chega hoje ao Iate Clube e deve começar a navegar antes do verão
Edson Rosa FLORIANÓPOLIS |
Flávio Tin/ND
Acquabus está em testes no rio Biguaçu e nesta quarta-feira aportará no Iate Clube de Santa Catarina
A licença para operação da primeira linha experimental de transporte marítimo em Florianópolis, entre o Centro e Canasvieiras, Norte da Ilha, depende apenas do parecer final da Procuradoria Geral do Município. Todas as demais etapas burocráticas do processo administrativo para viabilização do sistema alternativo já foram completadas, inclusive a vistoria técnica da Capitania dos Portos de Santa Catarina para liberação do Acquabus 1, que aportará no início da tarde de hoje no cais do Iate Clube de Santa Catarina, na baía Sul.
Defensor do transporte marítimo como alternativa viável para reduzir a carga de automóveis nas ruas da cidade, o secretário municipal da Mobilidade Urbana de Florianópolis, Valmir Piacentini, argumenta que a Lei 034/1938 dispensa licitação pública para casos de licenciamento experimental de serviços públicos por até seis meses. “Depois deste prazo, se aprovado o sistema e se houver empresas interessadas, será aberta licitação pública”, explica. Se apenas uma empresa continuar interessada, continuará operando com concessão pública.;
A prefeitura, no entanto, não pretende investir em melhorias nos atuais trapiches da cidade. Caberá ao empresário interessado em assumir os riscos do negócio oferecer segurança e conforto nos terminais de embarque e desembarque de passageiros. “Neste primeiro momento, cabe à administração municipal facilitar as etapas burocráticas do processo e estimular as pessoas a usarem o serviço”, avisa.
Segundo Piacentini, as atuais condições dos trapiches serão vistoriadas por técnicos da prefeitura, que farão levantamento das melhorias necessárias. Inicialmente, serão priorizadas as estruturas existentes na Beira Mar Norte; no flutuante dos clubes de remo da prainha Rita Maria (entre as pontes Hercílio Luz e Colombo Salles) e em Canasvieiras. “Temos outro, nos fundos do centro de convenções, na baía Sul, que também precisa ser readequado”, cita o secretário.
Preocupado em resgatar a mobilidade, o secretário lembra que o marítimo foi o primeiro modal de transporte em Florianópolis, até pelas características geográficas da cidade. “Tudo começou a mudar em 1922, com a construção da ponte Hercílio Luz. A partir daí, a Ilha abriu-se também às indústrias dos carros e das pontes.”
Curiosidade e aprovação na beira do rio
Basta um teste rápido no rio Biguaçu, no trecho de menos de um quilômetro entre a foz e a BR-101, para a aprovação de quem conhece de perto as dificuldades de chegar à Ilha. O pintor residencial Flávio Rita, 40, estava fazendo o acabamento em um muro nas proximidades da margem, na área central da cidade, parou por instantes o serviço e gritou: “É disso que a gente está precisando, tomara que agora saia do papel.”
Mais tarde, Rita confirmou que nos horários de pico costuma demorar até uma hora e meia para ir de Biguaçu ao Centro de Florianópolis, o que torna cansativa uma viagem de apenas 22 quilômetros. “As pessoas só querem carro, e as estradas ficam cada vez mais congestionadas”, diz.
Pelo mar, em dias sem vento como ontem a travessia da baía norte, do Centro de Biguaçu ao trapiche da Beira Mar Norte ou ao cais do Iate Clube Veleiros da Ilha, na Prainha, pode ser feita em 30 minutos pelo aquabus. “Sem contar que os passageiros substituem o estresse do trânsito urbano pelo relaxamento da navegação, diante da natureza exuberante”, compara o comandante Carlos Otávio Santos Oliveira, 49 anos.
Acostumado a iates de luxo de U$ 2 milhões, o empresário Édio Vieira, da Armada, um dos estaleiros à margem do Biguaçu, não descarta a fabricação de barcos semelhantes ao aquabus. Matrizes (formas) e plantas pertencem ao empresário Aldo Maciel, o “Nonô”, 57, dono da empresa Florimar Transportes Marítimos, que já propôs parceria.
“O problema aqui é falta de espaço, mas seria interessante”, argumenta Vieira. Outro modelo encomendado por Nonô Maciel, com capacidade para 100 passageiros, está em construção no mesmo estaleiro do rio Tigre, na Argentina, mas no próximo ele pretende substituir a fibra pelo alumínio. “É mais leve, mais resistente e, por deslizar melhor na lâmina d’água, é mais rápido. Também é mais caro”, acrescenta.
Futurista, Nonô já escolheu também o modelo para o projeto mais ousado da carreira de navegador. O super barco com capacidade para 400 passageiros para viagens entre Florianópolis, Porto Belo, Balneário Camboriú e Navegantes.
Conforto e segurança a bordo
Fabricado no delta do rio Tigre, Argentina, o Acquabus 1 da Florimar Linhas Marítimas tem monocasco de fibra, estanque, com 13 metros de comprimento e totalmente adaptado à legislação nacional. Tem banheiro unissex, capacidade para 45 passageiros sentados, mais quatro opcionais na parte externa da popa, e três tripulantes – o capitão e dois marinheiros de convés.
Equipado com dois potentes motores de popa independentes e cada um com 200 cavalos de força (HPs), a gasolina, mantém velocidade média de 23 nós, ou seja, cerca de 50 km/h. É revestido com material antichama e foi projetado também contra naufrágios, mesmo com rompimento de casco. O tanque tem capacidade para 500 litros, consumo de 70 litros por hora, com autonomia para seis horas de navegação.
Trapiches atuais serão readequados
O trajeto da linha experimental, entre a Beira Mar Norte e a praia de Canasvieiras, não foi escolhido por acaso. O empresário Aldo Nonô explica que a intenção é utilizar as estruturas dos trapiches já existentes e aproveitar as boas condições de navegabilidade naquele trecho da baía Norte. O preço da passagem individual deve ficar entre R$ 10 e R$ 12, para uma viagem de aproximadamente 30 minutos sem congestionamentos.
O trajeto previsto costeia as enseadas de Saco Grande, Cacupé, Santo Antônio de Lisboa e Sambaqui, passa ao lado das ilhas de Ratones Grande e Pequena e Anhatomirim, em frente ao pontal da Daniela e Jurerê, contorna a ilhota do Francês e termina no trapiche ao lado da foz do rio do Brás, entre Canasvieiras e Cachoeira do Bom Jesus.
Os testes em andamento incluem aspectos operacionais como predominância de ventos, dinâmica de marés, velocidade média, custos operacionais e de manutenção e expectativa de demanda de passageiros. “A idéia é, se possível, começar a navegar já na semana que quem, aproveitar esta temporada de clima bom mostrar o serviço à população”, diz Nonô Maciel. Turistas, moradores dispostos a navegar a lazer e executivos formam o perfil do usuário na mira do empresário.
Tecnologia e habilidade para superar obstáculos
Não faltam obstáculos ao transporte marítimo na Grande Florianópolis, apesar do potencial das duas baías. Além do histórico desinteresse político e empresarial e da falta de hábito de navegar entre a maioria da população, sobram efeitos da ação do homem no meio ambiente. Derrubada da mata ciliar, aterramentos e despejo de esgotos domésticos agravam os níveis de assoreamento dos canais, tornando a navegação impraticável em períodos de maré baixa.
É o caso específico do rio Biguaçu, onde na mesma margem oficinas náuticas, marinas e estaleiros que fabricam iates milionários contrastam com a pobreza e a falta de saneamento básico. Com calado de 40 centímetros, o Acquabus 1 foi projetado para navegar em baixa profundidade, mas só na preamar consegue sair da boca da barra e entrar na baía norte sem o risco de encalhar.
Outros obstáculos são fazendas marinhas de cultivo de ostras e mariscos, nem todas reordenadas pelo novo Plano de Gerenciamento Costeiro, e as redes feiticeiras deixadas à deriva para pesca artesanal no canal da baía.
“É complicado navegar nestas condições, mas este barco tem equipamentos para superar estas adversidades”, garante o comandante Otávio. Entre as novidades tecnológicas a bordo, o marinheiro aponta o Plotter, espécie de GPS e piloto automático que memoriza os trajetos navegados nos últimos 15 dias. “É fundamental, por exemplo, para evitar acidentes à noite ou em dias de nevoeiro denso”, explica Otávio.
(Do ND - www.ndonline.com.br)
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