sexta-feira, 18 de outubro de 2013

DE OLHO NO MAR

Pesquisadores da UFSC começam trabalho interno do veleiro construído para pesquisa oceanográfica

A primeira movimentação da embarcação com casco de alumínio ocorreu na segunda-feira e o projeto deve ser concluído em setembro do próximo ano

imgLetícia Mathias
@leticiam_ND
FLORIANÓPOLIS
A enorme estrutura de 13 toneladas transformou-se na motivação de estudantes e professores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). O veleiro de 60 pés, construído em alumínio, foi virado ontem pela primeira vez para a posição definitiva. A construção começou em 2010, no Inpetro (Instituto do Petróleo, Gás e Energia), dentro do Sapiens Park, no Norte de Florianópolis. De lá o barco sairá em setembro do ano que vem, diretamente para o mar de Canasvieiras.

Marco Santiago/ND
O veleiro levou duas horas para ser movimentado
Os pesquisadores levaram duas horas para terminar a operação de giro do veleiro. Para garantir segurança, o casco foi segurado por cabos ultrarresistentes. O engenheiro e consultor do projeto, José Oscar Benitini, dava os comandos e quatro integrantes do Labsolda (Laboratório de Soldagem) da Universidade, operavam as máquinas. O investimento é de R$ 1,8 milhão, financiado pelo Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).
Foi a primeira vez que a estrutura se moveu desde o término do casco. A partir de agora, começam os trabalhos internos. O professor de técnica de soldagem, Jair Carlos Dutra, um dos idealizadores do projeto, explicou que devido ao peso e tamanho da embarcação o trabalho foi delicado. “Se o casco for amassado toda a operação está perdida”, salientou.
O projeto é assinado pelo arquiteto naval Olivier Petit. Ele desenhou outros veleiros de exploração e pesquisa importantes como o Parati 2, para a volta ao mundo de Amir Klink, e o Antarctica-TARA, criado para estudar as mudanças climáticas em regiões polares.
Primeira viagem para a reserva do Arvoredo
O veleiro construído pela UFSC é o primeiro equipamento de pesquisa do país construído por uma universidade com autonomia para expedições científicas de longo percurso. Além das quatro cabines e estrutura para a tripulação, de até dez pessoas, a embarcação terá um laboratório.
Parte do material usado na construção também foi produzida pelos pesquisadores. Entre eles está o técnico em automação industrial, Cleber Marques, 30, que começou o trabalho no início das pesquisas.  “Durante esse tempo observamos que estaleiros nacionais não usam automação na soldagem, tecnologia que trabalhamos desde o começo. Praticamente toda parte externa deste veleiro foi automatizada e os manipuladores também foram fabricados por nós”.
Depois de pronto, quando for levado ao mar, o veleiro irá para uma expedição na reserva do Arvoredo, ao Norte de Florianópolis. Um dos objetivos é avaliar o impacto das plataformas de petróleo que ficam a 90 milhas do local. “Serão analisados diversos aspectos como impacto ambiental, poluição e biodiversidade”, detalhou o professor Orestes Alarcon.
Proposta de navegar até a Antártida
Paralelo à construção da embarcação, os pesquisadores desenvolveram dois robôs subaquáticos com sensores e diferentes níveis de profundidade para captar informações e coletar materiais debaixo d’água.  A ideia é colocá-los em funcionamento durante a expedição.
As ações após o fim do projeto dependem de recursos. Uma das propostas é levar o veleiro até o continente Antártico. Para isso, será necessário mais apoio, afinal, segundo o professor Jair Carlos Dutra o custo de manutenção será de R$ 5.000 mensais. Valor que a universidade não dispõe atualmente.
Outro desejo dos pesquisadores é concluir o veleiro com um sistema híbrido, sustentável, com energia solar e eólica e regeneração da água, o que também depende outras parcerias. Isso acontece porque o dinheiro recebido pelo Finpe é usado para compra de equipamentos, materiais e pagamento das bolsas para alunos. “Estamos fazendo e conquistando apoios ao longo do trabalho”, explicou.
Dez pessoas participam do desenvolvimento do projeto, dois professores coordenadores da UFSC e oito estudantes de graduação, mestrado e doutorado do departamento de engenharia. O IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina) e duas universidades privadas também são parceiros.

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