sexta-feira, 31 de maio de 2013

Foto Luiz Evangelista/ND
Depois de um dia de pouco trabalho, Negão descansa na areia da praia

Cachorros são aliados de pescadores de tainha na Lagoinha do Norte, onde safra já supera 2012
Apesar da redução dos cardumes, volume pescado nas duas primeiras semanas da temporada equivale à metade do capturado no ano passado em SC

por Edson Rosa

Chuva e Negão tiveram pouco trabalho ontem. Depois do cerco matinal, quando pouco mais de cem peixes vieram malhados na rede, passaram o resto do dia sem ter o que fazer. Ora deitados ao sol, ora correndo de um lado para outro na beira do mar, os vira latas são mais do que mascotes dos pescadores da Lagoinha do Norte, em Ponta das Canas, única colônia de Florianópolis onde a pesca da tainha ainda é feita exclusivamente com redes de arrasto e canoas de um pau só.

Eles também participam da lida na praia. “Quando o peixe já está desmalhado, eles carregam na boca e ajudam a amontoar para contagem”, diz Marcos Reis da Luz, um dos patrões da cooperativa formada por 14 parelhas, 26 redes e 208 camaradas fixos. Atentos aos movimentos dos vigias que monitoram os cardumes de pontos estratégicos dos costões, os cachorros também se encarregam de chamar a atenção dos demais pescadores na hora do cerco.  Também fazem a guarda de apetrechos e ranchos de pesca.

Localizada entre as praias Brava e Ponta das Canas e protegida do vento sul, a enseada da Lagoinha é considerada um dos melhores pesqueiros de tainha da Ilha. “Acho que é por causa da proximidade dos costões e porque a água é mais quente. Ela encosta para desovar aqui”, presume Reis.

Apesar da queda de safra registrada a cada ano, desde 2006, nas duas últimas semanas os pescadores da Lagoinha praticamente já empataram com a temporada passada. “Cercamos praticamente todos os dias, e pegamos 4.600 tainhas”, acrescenta o patrão. A expectativa na praia é chegar a 10 mil peixes, em torno de 20 toneladas, até o fim de julho.

Segundo levantamento da Federação dos Pescadores de Santa Catarina, em duas semanas já foram pescadas 203 toneladas, metade do capturado em 2012. “Deve melhorar em junho, quando esfria mais e, historicamente, ocorre o pico da safra”, diz o presidente Ivo Silva. Os lances mais bem sucedidos ocorreram em Florianópolis e no Sul do Estado.

Cooperativa mantém duas equipes na praia

 Na Lagoinha, os pescadores se dividiram em duas equipes. Uma delas, ocupa o rancho próximo ao riacho do costão da Ponta do Bota, ao Norte da praia Brava, onde dois olheiros ficam abrigados em pontos estratégicos para dar sinal de lance no momento certo. A outra fica no outro extremo da praia, no canto do Alemão, ao lado de Ponta das Canas, orientados pelo terceiro posto de vigia. A comunicação entre eles é feita por rádios, apitos e acenos.

Apesar de estritamente masculino, o ambiente nos ranchos é familiar . Enquanto esperam, é ali que eles cozinham, descansam, jogam dominó e jogam conversa fora. “Na safra da tainha aqui é a nossa casa”, diz Nézio Souto, 47, um dos “cabeças de emenda”, como são chamados os coordenadores das parelhas. “Somos 14 sócios, e todos trabalhamos igual. Cada um faz a sua parte”, acrescenta, enquanto se serve de café preto e aipim cozido no lanche da tarde.

No outro canto da praia, Domingos Rodrigues dos Santos, o Galego, 53, entralhava chumbo numa das redes usadas nesta safra. “Esta aqui já pegou 1.700 tainhas este ano”, acrescenta. A expectativa dele é que o vento sul volte a soprar forte para trazer novos cardumes da Lagoa dos Patos.

É o que também espera o vigia Renaldo Manoel da Luz, 53, que teme a extinção da atividade artesanal, mas não quer a mesma profissão para o filho de 11 anos. “Está cada vez mais difícil viver da pesca. A concorrência com os grandes barcos é desleal”, observa.

Nesta safra Renaldo tem um desafio. Repassar os segredos da função ao colega Alessandro Cabral, 35. “O importante é conhecer o peixe e as condições do mar, para não colocar os colegas em perigo”, acrescenta o aprendiz. Na Lagoinha, esta é a média de idade da última geração de pescadores artesanais em atividade.

Redução de cardumes têm causas variadas

Para Marcos Reis da Luz, a redução dos cardumes tem várias explicações. Uma delas é a liberação da pesca durante o ano todo na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, principal criadouro da espécie no litoral sul do Brasil. Outra hipótese é o aquecimento da água do mar nas proximidades do estuário, o que estaria estimulando a desova nas proximidades do estuário.

 “Mas, o que mais prejudica é o excesso de barcos industriais e botes de caça de malha”, avalia.  Segundo Reis, falta fiscalização mais eficiente, principalmente para contra pescadores de Ganchos que costumam atuar à noite. “Quando encosta peixe, os botes com caça de malha invadem. Alguns jogam as redes de cerco nas proximidades do costão”, denuncia.


Pesca artesanal - Litoral de SC
Safra 2013

Início: 15 de maio
Término: 30 de julho
Produção parcial: 203 toneladas 

Declínio

Ano/toneladas

2006- 1.124

2007 – 2.192

2008- 923

2009 – 1.198

2010 – 780

2011 – 617 –

2012 – 420

Fonte: Federação dos Pescadores de Santa Catarina

(Do ND - www.ndonline.com.br)

Nenhum comentário: