domingo, 7 de abril de 2013

LÁ NO FUNDO...

Foto Divulgação

Cientistas da Univali fazem pesquisa inédita no fundo do Oceano Atlântico
Projeto fará com que pesquisadores mergulhem a cerca de 4 mil metros de profundidade

por Julimar Pivatto
julimar.pivatto@osoldiario.com.br
Na terça-feira, dois pesquisadores da Univali de Itajaí embarcam para uma expedição inédita. Junto com cientistas japoneses e outros especialistas brasileiros eles vão explorar a região da Elevação do Rio Grande, uma espécie de cadeia de montanhas que fica no fundo do Oceano Atlântico, a cerca de mil quilômetros da costa brasileira. Será a primeira vez que uma pesquisa como esta é realizada na região usando um submersível tripulado que pode chegar a 6 mil metros de profundidade.

A viagem de José Angel Alvarez Perez, coordenador do grupo de estudos pesqueiros, e de André Oliveira de Souza Lima, coordenador do grupo de pesquisa em genética molecular aplicada, será de avião para a Cidade do Cabo, uma das capitais da África do Sul. Lá, eles e outros pesquisadores brasileiros se juntam à tripulação japonesa do navio Yokosuka, com embarque previsto para sexta-feira. Eles ficam em alto-mar até o dia 7 de maio.

A escolha dos dois pesquisadores ocorreu porque eles já estudam a região. As pesquisas feitas lá, até hoje, foram realizadas apenas com equipamentos como sondas e braços mecânicos. Por isso, a importância da expedição. Eles vão usar um submersível japonês, um dos únicos do mundo, onde um pesquisador pode descer junto com dois operadores do equipamento. E, lá embaixo, terá a oportunidade de escolher o que fotografar (com câmeras de alta resolução) ou coletar (através de braços mecânicos).

— Isso vai favorecer o nosso processo de amostragem — resume André.

O objetivo da expedição é a pesquisa de microrganismos, a diversidade e potencial tecnológico. Segundo eles, montanhas submarinas de grande dimensão podem concentrar vida profunda não apenas sobre a superfície, mas também centenas de metros sobre o topo.

— É uma vasta área oceânica pobre em nutrientes e produção biológica, mas que podem funcionar como um verdadeiro oásis marinho — diz Perez.

Os pesquisadores prometem trazer amostras de microrganismos para estudar junto com os alunos na Univali, mas acreditam que os primeiros resultados só devem ser divulgados daqui a um ano. Estas constatações alimentarão o conjunto de informações já publicadas pelo grupo da Univali na área do projeto Mar-Eco Atlântico Sul, que têm atividades apoiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Área de pesquisa é do tamanho do Estado da Bahia

A Elevação de Rio Grande é uma área que tem cerca de 570 mil km², o que corresponde ao Estado da Bahia. A região tem profundidade média de 4 mil metros e os locais mais rasos tem cerca de 1 mil metros.

— Alguns chamam de Alto Rio Grande, mas o correto é elevação — explica o professor José Angel Alvarez Perez.

O navio onde os pesquisadores estarão percorrerá boa parte da área. O submersível pode demorar até cinco horas para chegar até a base da montanha, por isso o local escolhido para usá-lo precisa ser bem estudado. Segundo os pesquisadores, não é preciso fazer um treinamento específico para mergulhar com o equipamento.

— Eu costumo dizer que é preciso mais preparação psicológica do que outra coisa. Dentro do submersível, a pressão é a mesma que em terra. Só precisa ter espírito para ficar tanto tempo embaixo da água — comenta Perez.

O projeto

A pesquisa é financiada pelo governo japonês, através da Japan Agency for Marine-Earth Science and Technology (Jamstec), e faz parte do acordo de cooperação científica e tecnológica entre os governos do Japão e do Brasil, firmado em 1985. A coordenação no Brasil é do Instituto Oceanográfico da USP e, nesta expedição que começa dia 12, será composta por cientistas da Univali, da Universidade Federal Fluminense (RJ), do Serviço Geológico Brasileiro (CRPM) e da Petrobras.

O navio Yokosuka partiu do Japão antes do Natal e levará cerca de um ano para passar por todos as áreas a serem pesquisadas. A cada "pernada" (termo usado por navegadores para determinar o trecho de uma viagem), é trocada a equipe de pesquisadores, por isso os dois representantes da Univali embarcam na Cidade do Cabo e vem em direção ao Brasil. Depois da região do Elevado do Rio Grande, a expedição irá para a Bacia de Santos e a Dorsal de São Paulo (nesta parte, sem os pesquisadores da Univali).

( Do O SOL DIÁRIO - www.clicrbs.com.br)

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