Foto Athila Bertoncini/Divulgação |
Projeto Meros do Brasil, nascido em Itajaí, pesquisa espécie em risco de extinção
Estudiosos alertam para diminuição na quantidade de animais encontrados no Litoral catarinense
Dagmara Spautz
dagmara.spautz@osoldiario.com.br
Pesquisadores do Projeto Meros do Brasil desembarcaram quarta-feira em Itajaí após uma expedição de 10 dias pela costa do Paraná e de Santa Catarina em busca do mero, gigante marinho que está ameaçado de extinção. Os seis estudiosos, entre biólogos e oceanógrafos, voltaram com a certeza de que a espécie precisa de ajuda.
Em 48 mergulhos, menos de 30 meros foram encontrados. Todos estavam em apenas dois pontos do Litoral catarinense, na Ilha de São Francisco do Sul e nos arredores da Reserva Marinha do Arvoredo - uma queda populacional sensível para uma espécie que, há 60 anos, era comum e abundante em todo o Estado.
- Ainda não há uma sensibilização quanto à conservação do mero, até porque, diferente das baleias e tartarugas, o mero ninguém vê. No Brasil, o peixe ainda é tratado como fauna, como recurso pesqueiro - diz o oceanógrafo Áthila Bertoncini, coordenador de mergulho científico do projeto.
Pesado e grande, o mero forma cardumes no período reprodutivo, o que o torna uma presa fácil e atraente para a pesca esportiva. Há 10 anos, já considerado ameaçado de extinção pela União Internacional para Conservação da Natureza, uma portaria do governo federal proibiu a captura, comércio e transporte do mero, que foi o primeiro peixe marinho a receber medidas de proteção.
Captura continua
A portaria foi reeditada este ano, e teve a validade estendida até 2015. Para os pesquisadores, o prazo ainda é curto para saber se a espécie está ou não se recuperando e voltando a ocupar espaços onde já habitou, já que um filhote só estará apto a reproduzir depois de seis anos.
Apesar de protegido, o mero ainda é capturado, seja pela pesca esportiva e artesanal ou por acaso, na pesca industrial - o que ocorre quando o peixe fica preso nas redes ou é fisgado por anzóis.
- O mero tem características que o tornam muito vulnerável, como o fato de não ser agressivo, ter um crescimento lento, se agregar para reproduzir e se alimentar, o que potencializa a captura - diz a coordenadora técnica do Projeto Meros, Maíra Borgonha.
Uma nova expedição de mergulho do projeto deve ocorrer em janeiro. A intenção é, pela primeira vez, fazer a marcação dos peixes com chips, o que vai auxiliar na identificação e no monitoramento dos meros.
- O monitoramento é importante até porque se trata de um predador de peixes menores e crustáceos, e a presença do mero indica que há condições de vida no local - considera o oceanógrafo Rodrigo Mazzoleni, do Laboratório de Oceanografia Biológica da Univali.
Preservação do mero começa por Itajaí
Coordenadora técnica do projeto Meros, Maíra Borgonha conta que as primeiras iniciativas para preservação do mero surgiram em Itajaí 11 anos atrás, através de pesquisadores ligados à Univali. O projeto Meros ganhou corpo e hoje está entre os programas patrocinados pela Petrobras, com atuação nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco e Pará, além de Santa Catarina.
O trabalho ocorre em diferentes focos, que vão desde a educação ambiental até a identificação genética do mero, para evitar o comércio ilegal do peixe. Maíra explica que quando capturado, o mero é descaracterizado como forma de burlar a fiscalização. Sem a cabeça, o rabo e as escamas, é vendido como badejo.
- O mero é hoje uma espécie protegida, mas muita gente ainda não conseguiu entender isso - diz o oceanógrafo Áthila Bertoncini.
Paralelo à identificação, os pesquisadores também atuam na marcação, pesagem e medição dos animais, dados importantes para comprovar o impacto da ação do homem sobre a população de peixes. O projeto também tenta a reprodução de meros em cativeiro, numa tentativa de melhorar as possibilidades de estudo da espécie.
Anzóis que protegem tartarugas podem beneficiar o mero
O uso de anzóis em formato mais arredondado do que o comum na pesca de espinhel, que tem evitado a mortandade de tartarugas marinhas, pode servir também como medida de proteção para o mero e auxiliar nos programas de monitoramento da espécie.
Desenvolvidos pelo Projeto Tamar, os anzóis escorregam da boca do animal com maior facilidade. No caso das tartarugas, se forem fisgadas, o anzol modificado prenderá no bico, o que vai provocar um ferimento mais leve que o normal. Os pesquisadores do Projeto Meros do Brasil estudam os efeitos do anzol arredondado nas capturas feitas em pesquisas.
Os testes devem começar na próxima expedição que partirá de Itajaí, em janeiro, e a intenção é verificar se o novo modelo de anzol é capaz de uma captura menos prejudicial ao mero. Biólogo do projeto, Leonardo Bueno trouxe de uma recente viagem à Flórida (EUA) novas técnicas para captar informações do mero, com análises que vão além do tamanho e do peso - o que poderá trazer novos parâmetros para a espécie.
(Do O SOL DIÁRIO - www.osoldiario.clicrbs.com.br)
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