Foto Marcos Porto / Agencia RBS
Dagmara Spautz
Quatro tartarugas e um golfinho foram encontrados mortos nesta terça-feira, em praias de Itajaí, Bombinhas e Itapema. Nos últimos quatro dias, perto de 30 espécimes chegaram já sem vida à região - uma média de sete por dia. A situação deixa em alerta os pesquisadores, que acreditam na relação entre as mortes e a pesca de emalhe, modalidade especializada na captura peixes com o uso de redes.
Para os especialistas, há urgência na definição de medidas que garantam a preservação das espécies.
- São animais protegidos por lei, e a morte deles é um crime. Existe descaso porque o ambiente marinho é estranho ao nosso, mas se estivéssemos falando em onças, em veados campeiros, a preocupação seria outra - diz Jules Soto, doutor em Zoologia e diretor do Museu Oceanográfico da Univali.
As mortes coincidem com a volta ao trabalho de parte das embarcações industriais especializadas em emalhe de fundo. A maioria dos barcos está parada há cerca de um mês, devido a divergências legais no tamanho permitido para as redes, mas parte da frota retomou as atividades esta semana.
Além das embarcações industriais, há ainda pesca de emalhe artesanal, que atinge regiões costeiras - e pode impactar a fauna marinha. As tartarugas, das espécies verde e cabeçuda, são maioria entre as vítimas. Gustavo David Stahelin, biólogo e coordenador técnico do Projeto Tamar em Santa Catarina, afirma que a pesca de emalhe é reconhecida como a principal causa da morte de tartarugas, seguida pelo lixo que elas engolem.
A diferença é que, enquanto as mortes causadas por lixo ocorrem durante o ano todo, as que são ocasionadas pelas redes de emalhe se concentram em épocas e regiões específicas, e atingem um maior número de animais ao mesmo tempo.
- São muitas evidências para deixarmos de lado - diz o biólogo.
Usada na pesca de animais como corvinas e tubarões, a pesca de emalhe é considerada predatória por não ser seletiva - a rede pode capturar espécies que não são comercializadas. Por isso, foi proibida em muitos países.
Desde terça-feira, pesquisadores do Projeto Tamar circulam pelas áreas pesqueiras de Itajaí e região para identificar quantas embarcações de emalhe estão em atividade, e como a pesca tem sido conduzida. A intenção é identificar se há algum processo que possa estar facilitando a morte dos animais.
Enquanto isto, especialistas do Museu Oceanográfico trabalham na catalogação e determinação da causa da morte de cada um dos espécimes recolhidos. Os levantamentos apontaram que o golfinho, encontrado terça-feira, era um filhote. Marcas no corpo do animal mostram que houve tentativa de outro golfinho em soltá-lo da rede - provavelmente a mãe, segundo os especialistas.
Além das tartarugas e do golfinho, quatro pinguins também apareceram mortos na região nos últimos quatro dias.
Pesca industrial e artesanal discordam sobre causa das mortes
Assessor técnico do Sindicato dos Armadores e da Indústria da Pesca de Itajaí (Sindipi), Roberto Wahrlich não acredita que a causa da morte dos animais marinhos na região esteja relacionada à pesca industrial - até porque, segundo ele, a maioria das embarcações ainda não voltou às atividades.
Para Wahrlich, a responsabilidade pode estar ligada à pesca artesanal, que atua em áreas próximas à costa:
- No ano passado, quando houve mortandade de animais, identificou-se que a causa foi a pesca na área costeira, que é artesanal. Pode estar ocorrendo algo semelhante.
Ivo da Silva, presidente da Federação dos Pescadores de Santa Catarina (Fepesc), que representa a pesca artesanal, garante que as mortes não podem ser creditadas à atuação dos pescadores costeiros:
- A pesca artesanal existe há muito tempo, e nunca houve essa mortalidade toda.
Enquanto a verdadeira culpada pela morte dos animais não aparece, o que falta, segundo Wahrlich, do Sindipi, são pesquisas que indiquem onde estão os animais, e em que época do ano aparecem por aqui, além do impacto da pesca sobre as populações de tartarugas e golfinhos.
- Não há interesse da pesca em capturar esses animais. Se isto puder ser evitado, melhor.
Pesquisa pode diminuir captura acidental
Conhecer a fundo o modo como está sendo feita a pesca de emalhe, e de que forma tem impactado a vida marinha, pode ajudar a salvar a vida de animais como golfinhos e tartarugas através da mudança de técnicas e métodos. As alterações, porém, esbarram no fato de muitas famílias sobreviverem da pesca de emalhe - seja na forma industrial, ou artesanal.
- Não é algo que se pode mudar da noite para o dia - reconhece Gustavo David Stahelin, coordenador técnico do Projeto Tamar em Santa Catarina.
O Tamar coordena desde 2009 em Ubatuba (SP) testes de pesca noturna de emalhe com e sem iluminadores, para avaliar o impacto sobre a captura acidental de tartarugas. Os dados coletados pelo projeto ainda estão sendo analisados, mas um teste parecido, feito no México, mostrou que redes com iluminadores reduziram em 40% a captura de tartarugas e não alteraram significativamente a pesca de espécies-alvo.
Em Itajaí, o Projeto Tamar trabalha no convencimento dos pescadores a trocar o anzol da pesca de espinhel por um modelo mais arredondado, que diminui a captura e morte das tartarugas nesta modalidade específica.
(O SOL DIÁRIO - www.soldiario.clicrbs.com.br)
Dagmara Spautz
Quatro tartarugas e um golfinho foram encontrados mortos nesta terça-feira, em praias de Itajaí, Bombinhas e Itapema. Nos últimos quatro dias, perto de 30 espécimes chegaram já sem vida à região - uma média de sete por dia. A situação deixa em alerta os pesquisadores, que acreditam na relação entre as mortes e a pesca de emalhe, modalidade especializada na captura peixes com o uso de redes.
Para os especialistas, há urgência na definição de medidas que garantam a preservação das espécies.
- São animais protegidos por lei, e a morte deles é um crime. Existe descaso porque o ambiente marinho é estranho ao nosso, mas se estivéssemos falando em onças, em veados campeiros, a preocupação seria outra - diz Jules Soto, doutor em Zoologia e diretor do Museu Oceanográfico da Univali.
As mortes coincidem com a volta ao trabalho de parte das embarcações industriais especializadas em emalhe de fundo. A maioria dos barcos está parada há cerca de um mês, devido a divergências legais no tamanho permitido para as redes, mas parte da frota retomou as atividades esta semana.
Além das embarcações industriais, há ainda pesca de emalhe artesanal, que atinge regiões costeiras - e pode impactar a fauna marinha. As tartarugas, das espécies verde e cabeçuda, são maioria entre as vítimas. Gustavo David Stahelin, biólogo e coordenador técnico do Projeto Tamar em Santa Catarina, afirma que a pesca de emalhe é reconhecida como a principal causa da morte de tartarugas, seguida pelo lixo que elas engolem.
A diferença é que, enquanto as mortes causadas por lixo ocorrem durante o ano todo, as que são ocasionadas pelas redes de emalhe se concentram em épocas e regiões específicas, e atingem um maior número de animais ao mesmo tempo.
- São muitas evidências para deixarmos de lado - diz o biólogo.
Usada na pesca de animais como corvinas e tubarões, a pesca de emalhe é considerada predatória por não ser seletiva - a rede pode capturar espécies que não são comercializadas. Por isso, foi proibida em muitos países.
Desde terça-feira, pesquisadores do Projeto Tamar circulam pelas áreas pesqueiras de Itajaí e região para identificar quantas embarcações de emalhe estão em atividade, e como a pesca tem sido conduzida. A intenção é identificar se há algum processo que possa estar facilitando a morte dos animais.
Enquanto isto, especialistas do Museu Oceanográfico trabalham na catalogação e determinação da causa da morte de cada um dos espécimes recolhidos. Os levantamentos apontaram que o golfinho, encontrado terça-feira, era um filhote. Marcas no corpo do animal mostram que houve tentativa de outro golfinho em soltá-lo da rede - provavelmente a mãe, segundo os especialistas.
Além das tartarugas e do golfinho, quatro pinguins também apareceram mortos na região nos últimos quatro dias.
Pesca industrial e artesanal discordam sobre causa das mortes
Assessor técnico do Sindicato dos Armadores e da Indústria da Pesca de Itajaí (Sindipi), Roberto Wahrlich não acredita que a causa da morte dos animais marinhos na região esteja relacionada à pesca industrial - até porque, segundo ele, a maioria das embarcações ainda não voltou às atividades.
Para Wahrlich, a responsabilidade pode estar ligada à pesca artesanal, que atua em áreas próximas à costa:
- No ano passado, quando houve mortandade de animais, identificou-se que a causa foi a pesca na área costeira, que é artesanal. Pode estar ocorrendo algo semelhante.
Ivo da Silva, presidente da Federação dos Pescadores de Santa Catarina (Fepesc), que representa a pesca artesanal, garante que as mortes não podem ser creditadas à atuação dos pescadores costeiros:
- A pesca artesanal existe há muito tempo, e nunca houve essa mortalidade toda.
Enquanto a verdadeira culpada pela morte dos animais não aparece, o que falta, segundo Wahrlich, do Sindipi, são pesquisas que indiquem onde estão os animais, e em que época do ano aparecem por aqui, além do impacto da pesca sobre as populações de tartarugas e golfinhos.
- Não há interesse da pesca em capturar esses animais. Se isto puder ser evitado, melhor.
Pesquisa pode diminuir captura acidental
Conhecer a fundo o modo como está sendo feita a pesca de emalhe, e de que forma tem impactado a vida marinha, pode ajudar a salvar a vida de animais como golfinhos e tartarugas através da mudança de técnicas e métodos. As alterações, porém, esbarram no fato de muitas famílias sobreviverem da pesca de emalhe - seja na forma industrial, ou artesanal.
- Não é algo que se pode mudar da noite para o dia - reconhece Gustavo David Stahelin, coordenador técnico do Projeto Tamar em Santa Catarina.
O Tamar coordena desde 2009 em Ubatuba (SP) testes de pesca noturna de emalhe com e sem iluminadores, para avaliar o impacto sobre a captura acidental de tartarugas. Os dados coletados pelo projeto ainda estão sendo analisados, mas um teste parecido, feito no México, mostrou que redes com iluminadores reduziram em 40% a captura de tartarugas e não alteraram significativamente a pesca de espécies-alvo.
Em Itajaí, o Projeto Tamar trabalha no convencimento dos pescadores a trocar o anzol da pesca de espinhel por um modelo mais arredondado, que diminui a captura e morte das tartarugas nesta modalidade específica.
(O SOL DIÁRIO - www.soldiario.clicrbs.com.br)
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