Mulheres comandam a pesca
— Elas já estão pulando pra fora d'agua — observa Maria Silveira Machado, 72 anos, recostada em sua bateira e atenta ao movimento de cardumes no mar.
A temporada de captura da tainha começa neste domingo e, na praia do Loteamento Maryvone, na Praia de Fora, em Palhoça, Maria do Peixe, como é conhecida na área, colocou de pé, madeira por madeira, o rancho que dará suporte à pescaria, durante dois meses initerruptos. Do alto dos seus 1,60 metro de altura, ela é quem comanda a pescaria na praia e conta com a preciosa ajuda da filha Marisa, da neta Ariana, da nora Márcia e até da bisneta, Rakely, de dois anos. Com fé no frio trazido pelo vento sul, elas esperam superar o ano de 2008, quando arrastaram, sozinhas, 480 quilos do peixe.
Entre as mulheres, a ansiedade é grande. Dona Maria já se programou para acordar às 5h no domingo para ficar de vigília na praia.
Pesca uniu a família
A família com três gerações de pescadores artesanais — a quarta já está bem encaminhada — dá exemplo na praia. Prova que o que a pesca uniu, as dificuldades não separam. Durante a temporada de pesca da tainha, a união é ainda maior, pois o serviço exige esforço. Para arrastar as tainhas à praia é utilizada uma rede de 500 metros. Nessa hora, gente da própria comunidade se envolve no trabalho e levavam a recompensa pra casa: tainha fresca e, se der sorte, ovada.
— Sinto muito orgulho disso. A tainha é a nossa vida. Nessa época dá muito agito por aqui — conta a pescadora artesanal.
Maria do Peixe dá exemplo
Maria do Peixe tem oito filhos, sendo sete mulheres e um homem, 20 netos e sete bisnetos. Das filhas, cinco resolveram abraçar a pesca e seguir os passos da mãe, apesar de manterem outras atividades paralelas, exceto Mariza, que se dedica integralmente ao mar. O marido, Seu Severiano, também é pescador, mas teve que largar a atividade por causa de problemas cardíacos. Puxar a rede, para ele, virou um esforço perigoso. Nessa hora, Maria do Peixe, apesar do corpo franzino, vira uma gigante de dar inveja a qualquer pescador. Nas mãos dela, a rede parece um brinquedo.
— A pesca pra mim é tudo. Quando eu morrer vai ter continuidade. Família grande é bom pra isso — reconhece a matriarca.
Safra rentável para os Machado
Dona Maria aprendeu a pescar com o pai e hoje recebe aposentadoria como pescadora artesanal. Mas, apesar da idade, grande parte do seu sustento vem com a pescaria na praia. Com a venda de tainhas direto da praia ou em casa, na temporada passada, a família conseguiu lucrar cerca de R$ 3 mil. O valor é devidamente dividido entre as mulheres. Com ele, Dona Maria compra utensílios para a casa e alimentos.
Por isso, neste período, a dedicação é total. Maria do Peixe troca a casa pelo rancho improvisado. Apesar da profissão, toda tainha que leva pra casa, após os lanços, vai direto para o refrigerador.
— Eu não como tainha. Eu fui criada a peixe e hoje só vendo. Ela é gostosa, mas muito gordurosa — diz a pescadora.
(Edição de hoje, 14/5/11 do jornal Hora de Santa Catarina - de Luiz Eduardo Schmitt luiz.schmitt@horasc.com.br )
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