sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

NO BALANÇO DO MAR

Foto Andrea Ramos
"Ainda existem almas santas a imaginar que o melhor lugar para trabalhar é um cantinho à beira mar, uma velha cachaça e um velho calção de banho. Ledo (Ivo) engano. Aqui do litoral de Santa Catarina, tenho a dizer que a transpiração é maior que a inspiração. Desde moleque tenho passado os verões nesse circuito: Porto Belo, Itapema, Balneário Camboriú e Cabeçudas (este desprezado retiro de veraneio dos Ramos e Bornhausen, vizinhos e compadres dos barões da indústria do Vale do Itajaí). Tanto vivi nesta orla que a rotina de passar as tardes de sol escrevendo, amarrado ao pé da mesa, é um suplício pelo qual o “rato de praia”que fui nunca se imaginou passando. Como também nunca me imaginei capaz de enfrentar estes dias de verão com o firme propósito de perder os quilos que ganhei desde quando parei de fumar, há um ano. E assim tenho passado os dias: pela manhã, rápida leitura dos jornais (internet) e uma hora e meia de caminhada; no almoço, todo cuidado é pouco; à tarde, a crônica diária e algumas linhas do livro que está em andamento; no jantar um lanche, e a noite é uma criança sem carboidratos. Para consagrar a temporada, cortei relações com o açúcar e disse adeus aos destilados. Vinho e cerveja, com moderação. A transpiração, portanto, é maior que inspiração. Sem que a coluna sofra por falta de assunto, esta mercadoria que não falta à beira mar. Assunto como este, da conversa entre um paulista, um gaúcho, um catarina e um paranaense. Os quatro olhando o mar batido, salpicado pela garoa fina. Depois do silêncio forçado pela passagem de uma excepcionalmente bela turista paraguaia, diz o paranaense: - Fosse um dos conterrâneos a ganhar na Mega Sena da Virada, teria comprado alguns apartamentos de frente pro mar em Balneário Camboriú. Aqui o sol nasce para todos. Mas o pôr do sol é só para os que têm apartamento de cobertura. Nunca se construiu e se vendeu tanto. O catarina se manifesta: - Pois eu investiria tudo em Floripa: no condomínio do Costão do Santinho e ainda compraria vários apartamentos de cobertura na Avenida Beira Mar. Além, é claro, de uma casinha na Lagoa da Conceição. O gaúcho, que até então bebia quieto seu chimarrão, também botou a colher: - Pois eu, tchê... também botaria meu dinheiro em Florianópolis. Mas investiria principalmente no Jurerê Internacional. Lá construiria uma mansão igual aquela onde mora a família do Ronaldinho Gaúcho. O paulista, depois de um gole na caipirinha, completou com toda a empáfia desse mundo: - Podem tirar o cavalinho da chuva. Nada disso eu vendo! *** A explosão (ou implosão) imobiliária nas praias de Santa Catarina, acompanhada do febril desenvolvimento ao longo da BR-101, não é o único assunto a dominar todos os sotaques do Brasil Meridional aqui concentrado. Motivo de muita indignação são as filas e o tempo de viagem entre Balneário Camboriú e as praias vizinhas a Bombinhas, passando por Porto Belo. O percurso (a estrada carroçável, digamos) que no inverno demanda uma hora, agora nos custa quase um dia perdido dentro do automóvel. E nem é bom imaginar o que uma ambulância sofre para chegar ao fim da picada. Tanto se trata do fim da picada que os imóveis da chamada Costa Esmeralda (de Porto Belo em diante), já não são oferecidos com preços a partir de um milhão de dólares. Com algumas exceções. Corre à boca pequena que a bela casa da família Beto Richa, de frente para a Ilha de Porto Belo, estaria à venda. Se interessar possa, a conversa partiria dos três milhões de reais. O preço é discutível. O que não se discute é que, sendo do governador, a propriedade tem outro valor agregado." Dante Mendonça (Crônica publicada na edição de ontem de O Estado do Paraná/Tribuna do Paraná, devidamente "tarrafeada" sem autorização)

Nenhum comentário: