Lamacento, cheio de troncos torcidos e pernilongos, o mangue, paisagem que muitas vezes recebe olhares enviesados, é na realidade uma região que abriga um dos mais complexos, ricos e delicados ecossistemas do planeta. Neste lugar de água salobra, onde o rio se encontra com o mar e a maré é muito instável, moram e trabalham os catadores de caranguejo. Praticamente excluído socialmente, o povo do mangue adquiriu notoriedade com o movimento musical mangue beat, idealizado na década de 90 pelos músicos Chico Science e Fred 04.
Uma fama que infelizmente não serviu para imunizar os catadores e a sua fonte de renda do desequilíbrio ambiental. Os "homens da lama" têm uma área cada vez mais escassa para trabalhar, principalmente por causa de um vilão chamado carcinicultura - fazendas de criação de camarão, muitas vezes clandestinas. Isso porque, depois de no máximo cinco anos, os criadores são obrigados a mudar de lugar para evitar a proliferação de doenças nos camarões. Uma mudança que tem deixado um rastro de destruição para trás.
Mais complexo do que as questões de preservação, só mesmo o próprio sistema biológico dos mangues. Eles cobrem uma extensa e recortada área do litoral brasileiro, do Amapá a Santa Catarina. Além de morada de bichos aquáticos e terrestres, a vegetação emaranhada serve de peneira e impede que troncos e outros sedimentos sejam transportados dos rios para o oceano. O mangue acolhe aves, mariscos, cobras, crocodilos e os caranguejos, donos do pedaço. Esse animal passa o dia revirando o lodo - um processo importantíssimo, pois libera oxigênio aos vegetais. É o início de uma cadeia alimentar de muitas espécies de peixes e crustáceos, que, por sua vez, são alimentos de outros peixes de água salgada e que, por fim, chegam à nossa mesa. Deu para imaginar o que aconteceria se esse habitat simplesmente deixasse de existir?
Um comentário:
Excelente post!
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