quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O CAIS DE DESTERRO

Foto Acervo Casa da Memória de Florianópolis.
CAIS RITA MARIA
A DESTERRO DO SÉCULO XIX – 1860 a 1890


"Texto extraído do livro Prêmio de Monografias – Silvio Coelho dos Santos”
Monografia de Karla Leandro Rascke – Edição Fundação Franklin Cascaes.

"Ao passar aos arredores do atual Mercado Público de Florianópolis, imaginou-se as mesmas ruas em meados do século XIX. Hoje, tem-se uma cidade com grande tráfego de automóveis, muitas pessoas circulando, comprando, muitas luzes à noite e muitas construções remodeladas. A cidade no século XIX era permeada por um mundo de canoas, carros de boi e comércio de produtos muito forte nos bairros populares que ficavam onde hoje é o “centro”, com o Mercado Público, suas ruas e arredores.

O Mercado Público foi construído em 1855, como forma de substituir as barraquinhas das quitandeiras, passando a ser local de grande concentração de trabalhadores. Outra atividade muito comum estava ligada ao campo, a “lida na roça”, a produção da aguardente, farinha de mandioca e outros víveres bastante comercializados por toda a cidade, atividades que iam além da vila de Nossa Senhora do Desterro. De acordo com Joice Farias (2003), em sua dissertação sobre a Freguesia de Nossa Senhora da Lagoa da Conceição, “a cana de açúcar era produto de vulto na região. E a aguardente da Lagoa era reconhecida pela qualidade do produto, sendo exportado para outras regiões”. Narra a historiadora, que a região da Lagoa chegou a exportar tecidos, toalhas, rendas de bilro e outros produtos artesanais para o Rio de Janeiro. Essa freguesia era uma das que compunha a Ilha de Santa Catarina.

A Ilha de Santa Catarina deixou de ser uma economia apenas de subsistência para se tornar uma economia de mercado no século XIX, com suas principais atividades ligadas ao porto de Desterro. Em Muitos momentos, os produtos foram exportados para São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, movimento que se dava pelo porto. No século XIX, a paisagem da cidade foi modificada pelo aparecimento de alguns sobrados, normalmente de posse de comerciantes bem abastados, situação que se apresenta por uma ascensão econômica, ligada, em muitos momentos, à atividade portuária.

Nos fins do século XIX, quando a atividade portuária se desmontou e os comerciantes portugueses de “boa vida, a partir da exploração de africanos e afrodescendentes e um sem-número de gente sem eira e nem beira”, se viram desencontrados com os novos “ventos” do comércio, não mais controlados por eles. Toda a movimentação em torno do porto exigia um fluxo de trabalhadores e trabalhadoras que faziam com que as atividades se realizassem.

Durante este século, uma parte considerável da população de Desterro, era cativa. Nos anos 1860, esse número chegava a quase 25% do total de habitantes. Segundo os historiadores Fernando Henrique Cardoso e Octaviano Ianni, “a Ilha de Santa Catarina contava 26.311 habitantes, dos quais 3.431 eram mantidos em cativeiro. A Freguesia de Nossa Senhora do Desterro contava 9.108 habitantes, sendo 1.622 cativos”.

(Pesquisa e edição de José Luiz Sardá)

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