sábado, 27 de fevereiro de 2016

A VOLTA DO BERBIGÃO

Berbigão voltou a aparecer na baía sul após período de escassez 
foto Fabrício Gonsalves/ND
Costeira do Pirajubaé lança campanha Berbigão para Sempre
Intenção é resgatar autoestima de famílias que dependem do molusco extraído da baía sul, em Florianópolis

Edson Rosa 
FLORIANÓPOLIS
O cardápio deste sábado (27) não oferecerá apenas o tradicional ensopadinho com chuchu ou os saborosos pasteizinhos preparados pelas desconchadeiras da comunidade, convocadas pela Associação Caminhos do Berbigão. Receitas tradicionais da culinária local estarão lado a lado com iguarias goumertizadas por chefes do Movimento Slow Food, à base do molusco que esteve desaparecido e começa a dar sinais de regeneração nas áreas da Reserva Extrativista do Pirajubaé, na baía Sul de Florianópolis — conhecida pelos pescadores como baixio das Tipitingas.

Criada para resgatar a autoestima da comunidade extrativista da Costeira do Pirajubaé, a campanha Berbigão para Sempre será lançada neste sábado, a partir dar 9h, no bloco de rancho de pescadores da Reserva Extrativista Marinha de Pirajubaé, no aterro da Via Expressa Sul.

A intenção é sensibilizar e mobilizar a cidade para a importância da recuperação do estoque natural do molusco, além de resgatar o orgulho do pescador, melhorando a qualidade de vida das famílias que vivem da extração.

Durante todo o dia serão realizadas atividades culturais e de lazer. Na abertura, depois da apresentação da mascote da campanha, será disputada corrida de canoa, seguida de apresentação de pratos à base de berbigão, de boi de mamão, maracatu e zumba.

Também serão realizadas oficinas de artesanato e de confecção de tarrafas e exposições de fotos e apetrechos de pesca e extrativismo.

Entre os órgãos públicos apoiadores, a Epagri/SC (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina), faz parte do conselho deliberativo da reserva extrativista, e mantém monitoramento permanente da qualidade das águas da baía sul.

“Nosso papel é consultivo e deliberativo, porque as decisões envolvem questões relativas à pesca e à atividade extrativista, que estão dentro da área de atuação da extensão e da pesquisa da empresa”, explica a líder do Programa Pesca e Maricultura da Epagri, Sirlei de Castro Araujo.

Pressão urbana e excesso de chuva ameaçam reserva

A produção de berbigão em Florianópolis caiu sensivelmente nos últimos anos. Entre as ameaças constatadas nas áreas de extração da reserva de Pirajubaé e à sobrevivência do molusco, a Epagri identificou a grande pressão urbana e longos períodos de chuva entre novembro de 2014 e fevereiro de 2015.

No entanto, também contribuem para a redução gradativa a sobrepesca e a falta de ordenamento pesqueiro, a baixa organização comunitária e ausência de uma estrutura apropriada para o beneficiamento do molusco e de seus subprodutos.

“Além disso, a captura de moluscos ainda juvenis e a dragagem de um dos bancos de exploração para a construção da Via Expressa sul, na década de 1990, acentuaram os problemas sociais nas comunidades extrativistas”, esclarece Larissa Stoner, gerente de Programa da Rare, entidade norte americana do terceiro setor que apoia as ações de recuperação ambiental das áreas de produção e é parceira da gestão da reserva extrativista e da Associação Caminhos do Berbigão no desenvolvimento da campanha.

Engenheiro de aquicultura e pesca formado na Universidade Federal de Santa Catarina, extrativista e presidente da Associação Caminhos do Berbigão, Fabrício Gonçalves é o coordenador da campanha.

Segundo ele, a continuidade da campanha prevê parcerias com instituições de pesquisas, como Epagri e a própria UFSC, para tentar o replantio do berbigão em áreas atingidas pela mortandade de 2014/2015. Outra intenção é rever as regras de manejo do molusco, que são ditadas por portaria do ICMbio e buscar um selo de qualidade para o produto.

Pratos para todos os gostos
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Um dos representantes do Movimento Slow Food em Santa Catarina e chefe especializado em moluscos, Fabiano Gregório explica que a ideia é misturar o conhecimento tradicional da comunidade da Costeira com métodos importados da Itália, por exemplo. “Lá, é mais comum a comercialização do produto vivo, com casca”, diz.

Além disso, o caldo extraído da fervura básica para elaboração de pratos mais sofisticados, como macarrão com vôngole, é envasado e vendido separadamente nos próprios restaurantes. O Movimento Slow Food é a mais nova integrante do conselho consultivo da reserva extrativista.

Para a analista ambiental do ICMBio (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade) Laci Santin, chefe em exercício da reserva, este intercâmbio é fundamental para revalorização comunitária e do produto. “Trata-se da mais antiga base alimentar da sociedade litorânea, tem valor cultural imensurável”, diz.

Serviço

O quê: Lançamento da campanha Berbigão para Sempre
Quando: Sábado, 26 de fevereiro, das 14 às 17h
Onde: Sede da Resex Marinha de Pirajubaé, no bloco 1 dos ranchos de pesca da Via Expressa Sul, próximo ao elevado da Seta (João Câncio Jaques, 1.375, Costeira do Pirajubaé) em Florianópolis
Informações: (48) 9633-9043

(Do http://m.ndonline.com.br/)

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