sexta-feira, 22 de agosto de 2014

LÁ NO FUNDO...

O QUE RESTA DO CAROLINE ESTÁ NUMA ZONA POUCO PROFUNDA JUNTO À COSTA POENTE DO PICO -FOTO: DIVULGAÇÃO / CARLOS LOPES


O Governo dos Açores criou o Parque Arqueológico Subaquático do Caroline, junto à ilha do Pico, no local onde naufragou em 1901 o navio francês que controlava o mercado europeu dos adubos.

O decreto do Governo dos Açores que cria este novo parque arqueológico nos mares do arquipélago, publicado nesta terça-feira em Diário da República, destaca a "importância histórica e a singularidade dos restos submersos da Caroline", que se encontram num local de águas pouco profundas junto à costa do Pico.

O local do naufrágio do veleiro Caroline tem, por outro lado, "condições de visitação", permitindo "visitas controladas de mergulhadores, mediadas por empresas marítimo-turísticas devidamente licenciadas, sem impacto negativo sobre a conservação dos bens arqueológicos e naturais".

Segundo o executivo açoriano, o "testemunho arqueológico" que existe neste local está "bem identificado" e tem "elevado potencial" turístico-cultural, "podendo transformar-se em museu subaquático".
MEIA-BROA, LOCAL ONDA REPOUSA A CAROLINE - FOTO: DIVULGAÇÃO

A criação deste parque é, por isso, também justificada com "a necessidade de medidas de proteção, de estudo e inventariação do patrimônio subaquático que resultem na divulgação do turismo arqueológico e no incremento da história náutica dos Açores".
"Por outro lado, a proteção dos restos afundados do Caroline permite a conservação e salvaguarda da biodiversidade marinha existente naquela zona", já que a estrutura submersa "proporciona substrato para a colonização de organismos sésseis [como microalgas e corais], criando um ambiente similar aos recifes naturais costeiros do mar dos Açores, nos quais se abrigam espécies marinhas de importância ecológica e econômica", acrescenta o decreto.

O naufrágio está num local classificado como Zona Especial de Conservação dos Ilhéus da Madalena. A área do Parque Arqueológico Subaquático da Caroline é um quadrado com 300 metros de lado, sendo o centro o local onde estão os restos do barco.

Estão registados em fontes históricas escritas entre 600 e 700 naufrágios nos mares dos Açores entre os séculos XVI e XX, segundo disse à Lusa em Junho de 2013 o arqueólogo José Bettencourt, do Centro de História Além-Mar.
RESTOS DO NAVIO - FOTO: DIVULGAÇÃO

Segundo o arqueólogo, os Açores têm por isso “um potencial científico muito elevado e têm já uma história de investigação, que é referência a nível nacional”. O arquipélago tem cerca de 30 sítios identificados com a designação de patrimônio cultural subaquático, de acordo com os parâmetros da Unesco (o organismos das Nações Unidas para a Educação e Cultura).

O Caroline era um veleiro de quatro mastros com casco de ferro e 97,86 metros de comprimento. Pertencia à empresa Ant. Dom. Bordes et Fils e fazia a chamada "carreira do salitre", entre o Chile e França. A Ant. Dom. Bordes et Fils era então uma das maiores empresas de importação, desde o Chile para a Europa, de nitrato de sódio, usado como fertilizante.

Além do local do naufrágio do Caroline, existe nos Açores outro parque arqueológico subaquático: a baía de Angra do Heroísmo, com diversos locais visitáveis, como um cemitério de âncoras e o sítio onde está o vapor Lidador, um navio brasileiro de transporte de passageiros e mercadorias que se afundou em 1878.
FOTO DO ENCALHE DO CAROLINE NA MEIA-BROA ANTES DE SER DESTRUÍDO PELO MAR - FOTO: DIVULGAÇÃO

Pelas 23 horas do dia 3 de Setembro de 1901, em plena cerração, a barca francesa de 4 mastros Caroline encalhava "inopinadamente numas pedras, rombando e ficando com a borda quasi na superficie do mar".

Numa porção de mar que o Capitão Louvet viria a saber, mais tarde, ter o nome de Mar da Meia Broa, uma estreita língua de mar entre a costa e as águas pouco profundas junto aos ilhéus do Canal, algures entre a Areia Larga e a Madalena do Pico, perdiam-se assim milhares de toneladas do precioso salitre que tanto era necessário na adubação das terras da Europa do novo século.

(Do http://www.publico.pt/)

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