sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Pesca artesanal será transformada em indústria

Convênio vai equipar e qualificar catadores de berbigão em Florianópolis para tornar a atividade mais rentável

imgKeli Magri

FLORIANÓPOLIS
    Formar cooperativas, equipar produtores, qualificar mão de obra, agregar valor e oportunizar maior renda. Esses são os objetivos do convênio de R$ 600 mil assinado nesta quinta-feira (26) pelo ministro do Trabalho, Manoel Dias; pelo prefeito de Florianópolis, Cesar Souza Júnior; e pelas duas associações de catadores de berbigão de Florianópolis: Tapera e Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé, no sul da Ilha.
MARCO SANTIAGO/ND
Produtores de berbigão ganham incentivo para aumentar a renda
Os recursos oriundos do programa federal Economia Solidária foram repassados à Secretaria de Pesca e Aquicultura da Capital para serem destinados na melhoria da estrutura e na qualificação dos catadores, que representam 260 famílias em Florianópolis. De acordo com o secretário da Pesca do município, Paulo Henrique Ferreira, em janeiro iniciam os trabalhos da pasta para identificar as principais necessidades dos catadores e formar a cooperativa. “A falta de equipamentos modernos para a atividade que hoje é rudimentar e artesanal é uma das necessidades. A outra é capacitar os produtores para que possam empreender, tornar o berbigão mais valorizado e a atividade mais rentável”, destacou.
O prefeito foi além e afirmou que a intenção do município é transformar a atividade em uma indústria, a exemplo da produção de ostras. “É um momento histórico que registra o primeiro passo para transformarmos o prato típico com a cara de Florianópolis em um produto nobre e de valor. Erramos até aqui em não vermos o berbigão como tal e queremos transformá-lo num ativo econômico e em uma indústria”, ressaltou, ao propor um desafio à própria equipe de governo. “Queremos que 2014 seja o ano histórico do berbigão como produto valorizado e capaz de gerar maior renda”.
Segundo o ministro do Trabalho, Manoel Dias, o convênio é só o primeiro do setor na Capital e um dos 36 assinados por ele em todo o país para fortalecer a economia solidária. “São recursos e projetos que atendem os setores mais excluídos e têm a missão de criar condições e melhor renda aos brasileiros. Um dos pratos mais chiques do mundo ainda está em situação rudimentar em Florianópolis. Começamos a mudar isso, porque não adianta economia forte se for concentrada. Precisa ser igualmente distribuída”, enfatizou.
Catadores querem mais mercado
Santa Catarina representa 95% do consumo nacional de ostras e Florianópolis 85%. Os números refletem a força da maricultura catarinense, quinta economia da Capital, e representam a meta dos produtores também para o berbigão. Para isso, eles precisam do Selo de Certificação Federal (S.I.F), que só será possível com a formação das cooperativas e a qualificação técnica dos catadores.
A Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé tem 120 famílias associadas. Destas, 25 vivem da venda do berbigão. São três toneladas por dia e mais de 1.000 por ano, que abastecem, além do mercado interno, grandes capitais como Rio de Janeiro e São Paulo. Porém, para sair de Florianópolis, os catadores têm que vender os berbigãos para empresas com certificação, o que diminui o ganho. “Com o selo eliminaríamos os atravessadores e ganharíamos mais mercado. É isso que a cooperativa e esse convênio vão possibilitar”, destaca o presidente da associação, Fabrício Gonçalves.
É o que também espera a presidente da Associação Berbigão da Tapera, Sabrina Cândido, que representa 46 famílias. Sem estrutura, os catadores fabricam as próprias ferramentas de trabalho (gaiola, ancinho de mão e rastel) e vendem individualmente o produto que abastece quase que exclusivamente o Mercado Público. “Eu vendo de 100 kg a 140 kg de berbigão por semana a R$ 14 o kg e semanalmente dois caminhões do Mercado Público vêm até a Tapera catar a produção de todos”, explica ela, ao destacar a cooperativa como esperança de maior ganho às famílias. “Vai melhorar e facilitar nossa vida”, afirma.
Saiba mais
O ber­bigão, conhecido em outros países como vôngole, tem sido chamado assim em Florianópolis há pelo menos 250 anos, nome dado pelos açorianos. Como berbigão dá aos montes nas praias da Capital, virou refeição em tempos complicados e evoluiu para pratos sofisticados.
A ideia de transformar a atividade em empreendedorismo no setor foi do vereador Vanderlei Lela, que entregou o projeto em mãos ao ministro do Trabalho, em abril deste não. "A essência do projeto é criar políticas públicas para desenvolver o setor e melhorar a vida das famílias de catadores", afirmou Lela.

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